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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Violência??? Paz e Atitude



Esclareço que não sou desfavorável a conselhos, simpósios, passeatas e debates contra a violência e a favor da paz. Mas, esses acontecimentos abordam apenas parte da problemática. A violência é o efeito de alguma causa que deve ser tratada com ações. A Paz se faz com atitude!

Na filosofia existe a lei de causalidade (causa e efeito). Espinoza (1632 – 1677) acena que se enfrentamos com seriedade o problema, compreenderemos com ele foi produzido, ou seja, qual a gênese da problemática (buscar a causa da violência)? O filósofo alemão Leibniz (1646 – 1716) disse que nada existe que não tenha uma causa, confirmando a tese de que a violência tem a sua causa... Qual ou quais?

Os antigos (gregos e romanos) e os medievais definiram a causa em quatro (material, formal, eficiente e final). Os modernos priorizaram duas: eficiente – ligação direta entre causa e efeito. A origem da violência esta intimamente ligada com os seus efeitos: e causa final – seres livres agem para uma finalidade. Qual o objetivo de conhecer as causas das violências? Senão apresentar soluções de paz.

Quais são as causas da violência? Seria a deseducação geral, desestruturadas familiar, sociedade apática e estado indiferente. Cada um definirá como queira.

Os efeitos são os reflexos da violência que percebemos cotidianamente, desde falta de educação de uma atendente de loja [...] ao crime hediondo.

Como agir contra a violência e a favor da paz? As ações devem ser simples.

Precisamos mudar a mentalidade a apregoar a cultura da paz. Não há fórmulas mágicas para Paz. Comece por você: trate melhor seu empregado, patrão, cliente; respeite as leis de trânsitos. Comece por você e não a cobrar atitude dos outros. Seja educado! E eduque ou reeduque seus filhos ou as crianças que você conhece – essa regra vale para todos. Não precisa dar as pessoas um tratado sobre ética de Aristóteles ou moral de Kant, não, não é isso! É necessário ensinar coisas simples – sobretudo a crianças. Ensinar a pedir, por favor, com licença, obrigado, desculpas e muitas outras palavras que abrem relações harmônicas e sadias. Concordo com o filósofo Pitágoras “Eduque as crianças e não precisará punir os homens”.

Nas escolas infelizmente, linguajar tais como: “Vai tomar naquele lugar”, tornou-se artigo de luxo, “Sua mãe é uma arrombada” é uma oração diária. Além de outras agressões verbais e físicas. Confesso que em todo o meu período de magistério nunca ouvi ou vi nenhuma professora ou professor ter semelhante comportamento ou usar esses verbetes. Esse comportamento vem de casa ou pior da rua! Mas, a questão não é achar culpados e sim soluções!

O que fazer com os problemas de violência que temos na sociedade? Esperar as crianças educadas crescerem!? Aqui esta o nó, que embaraça as relações sociais. Segundo Foucault: “Nós não somos frutos de teorias, somos frutos de práticas sociais adquiridas culturalmente”. A violência é gerada no meio da sociedade, que por sua vez não consegue administrar suas próprias mazelas e exclui as pessoas. Deve haver comprometimento de todos (governo e sociedade), para implantações de políticas públicas, projetos sociais e educacionais. E qualquer atitude que resgate a dignidade e cidadania, momentaneamente são as melhores soluções.

A melodia “Nós queremos paz”, diz: “Peço agora, paz! Esse grito eu não vou calar como não calo uma oração. Paz! Nós queremos paz! Quem deseja faz acontecer não fica esperando em vão”. (Compositores - Joana, Marcos Neto, Ronaldo Monteiro de Souza).

Findo esse citando parte da belíssima música interpretada por Joana e mencionada acima: “Eu não quero só sobreviver. Quero a plenitude do viver.”

A importância da consciência ética na construção da cidadania.

Rio Tietê


É difícil praticar a ética sem entrar em confronto com nossas ações humanas. A ética faz com que revejamos nossos desejos, nossas atitudes, nossos conceitos e ponderações. O homem está constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, numa espécie de “consciência moral”. Atualmente com todos esses acontecimentos dando mais ênfase no assunto mundial em evidencia que é o meio ambiente, percebemos o quanto a ética é essencial para melhores atitudes e soluções. Saber que estamos disponibilizando dos recursos naturais para nossa sobrevivência e não nos importamos com o futuro destes, não é um modelo de como praticar a ética. Almejar o que é bom para nós não implica em lesar a natureza.

Vejo uma complexidade na questão ambiental, há preocupação com o meio ambiente mesmo ou apenas estamos na moda do verde? É difícil não nos influenciarmos pela mídia e pelo marketing, mas se observarmos bem, não há muito, ou quase nada, de ética nesses influentes, apenas prescrições de consumo. A ética é importante neste contexto de educação e orientação ambiental, pois antes de consumirmos e usarmos os produtos que precisamos para nossa sobrevivência e até mesmo os supérfluos tem que ter uma “consciência moral” de que passaram por processos que causaram impacto ao meio ambiente e que também mal conduzidos depois de usados poderão prejudicar nosso planeta.

Como construir uma sociedade melhor sem termos a consciência que devemos ser cidadãos de bom senso e de raciocínio lógico? Pois estes cidadãos podem designar uma boa qualidade de vida, conseguem exercer uma ética socialmente harmônica com o meio em que vivem. A racionalidade permite um amplo recurso do que temos e do que podemos ter.

Ser cidadão é antes de tudo ter consciência de que estamos expostos a todos os tipos de valorização e desvalorização das atitudes que tomamos para nossa vida. Uma delas é não cuidar do nosso bem mais precioso, o meio ambiente, pois poderá implicar em problemas futuros para nossa qualidade de vida. Exercer a cidadania é cuidar, respeitar e conduzir da melhor forma o que é nosso. A ética é fundamental para que possamos enxergar com mais respeito a tudo que nos instiga a viver.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Como fichar um texto, artigo, livro, etc...

Seguem algumas dicas, que não pretendem ser deterministas, apenas indicar um caminho inicial.

1 - Antes de começar...

* O ideal, antes de fazer um fichamento qualquer, é "preparar o terreno" fazendo uma boa leitura inicial do material, para ter uma idéia do terreno em que se está pisando.
* Será um ótimo sinal se já surgirem daí aqueles "grandes achados" (idéias que nos soam como novas ou antigas idéias que reaparecem rejuvenescidas); anote-as, pois de outra forma se esquecerá delas e só perderá com isso.
* Da mesma forma, perguntas ou dúvidas que surgem durante ou depois da leitura são importantes; tente anotá-las, pois são um tesouro precioso para quem estuda. Cabe ao leitor decidir, exercitando o seu bom senso, se convém interromper a leitura por um breve momento para esclarecimento daquela dúvida, ou se a dúvida pode esperar até o final da leitura do texto. Esse costuma ser o caso, esperar, quando o entendimento do texto não é comprometido pela dúvida e quando aquela dúvida vai exigir um esforço maior de estudo. Em todo caso, seja como for, anote a dúvida.
* Procure enriquecer sua compreensão fazendo uma pesquisa sobre o texto em algum material de comentadores, busque nas enciclopédias ou mesmo na internet. Abra seus horizontes para ter uma visão melhor das conexões entre o que foi lido e o "mundo".
* FINALMENTE: releia o texto novamente e vá fazendo o fichamento enquanto relê.
* Partilhe, troque idéias! Um texto não é um bicho morto para ser dissecado. Dificilmente alguém que leu entendeu tudo que havia para entender, procure debater com quem viu algo diferente, de uma mesma fonte pode nascer bichos diferentes. Um bom texto é um bicho vivo, e grávido.

2 - Tipos de fichamento

Fichamento bibliográfico:
--- indicar com clareza o autor e o livro em questão
--- indicar se alguém importante já fez uma resenha sobre o livro
--- indicar o objetivo, tema central e a natureza do livro
--- passar todos os capítulos e indicar a sua idéia central

Fichamento temático:
--- escolha um tema central do livro
--- apresente um panorama do tema com recurso a outras fontes
--- indique os sentidos do tema na obra analisada

Fichamento de autor:
--- apresente dados bibliográficos do autor
--- apresente as principais obras do autor se for possível, (1) faça um breve comentário sobre cada uma delas, (2) mostre como se encaixam dentro da evolução do pensamento do autor, (3) mostre quais as questões chaves tratadas em cada obra, etc.
--- apresente um quadro geral da sua obra completa se for possível, (1) destaque as questões principais que o incomodavam, (2) enumere quais as suas maiores contribuições, (3) mostre aquilo que ficou faltando ou aberturas que geraram novas discussões depois.

3 - Tipos de atitude diante da leitura

Fechamento:
--- "eu já tenho uma posição definida, vou ler esse autor chato e esse texto ultrapassado só para dar uma olhada, duvido que vá aprender algo" E está certíssimo, eu também duvido que você vá aprender alguma coisa.

Reducionismo:
--- nega que toda moeda tem dois lados, faz uma leitura de forma submissa ou dominadora, concordando totalmente ou discordando completamente do autor. Revela uma dificuldade ou incapacidade de manter a identidade e de reconhecer a diferença. Uma posição tem sempre que absorver ou ser absorvida por outra. O autor tem sempre que ser um herói ou um vilão.

Estreitamento:
--- se prende ao texto escrito, não consegue se libertar dos sinais gráficos, não consegue estabelecer conexões, nem entender que leitura também se faz do mundo, da história, dos contextos sociais e individuais. Os textos parecem sempre comunicar coisas distantes, tudo cheira a mofo, coisas velhas e passadas, trivialidade, teorias abstratas sem sentido... É um sintoma grave: procure uma biblioteca urgente e marque uma consulta, peça uma receita de bons livros para curar essa anemia cultural.

Dialética e crítica mútua:
--- reconhece que a história muda, que uma mesma imagem não vale para todo caso, que tudo está em relação ciência-religião-filosofia-sociedade- arte-literatura; pretende manter a identidade própria mas também procura reconhecer as diferenças e dialogar com elas. É a atitude do verdadeiro filósofo.

4 - Como fichar

Não existe um modo único para fazer fichamentos, o modo pode variar bastante de acordo com a obra analisada, essa talvez seja a dificuldade principal em que esbarram aqueles que buscam um "roteiro esquemático".

Acho, contudo, que, ao invés de encarar isso como um problema, os interessados deveriam se sentir até aliviados. Os pontos chaves eu tentei enumerar acima, quanto a forma e o conteúdo, ficam a critério da criatividade e da capacidade de leitura e escrita de cada um.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Frases de Sócrates - Pausa para pensar II

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.

Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.

Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.

Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

O verdadeiro conhecimento vem de dentro.

O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu carácter.

Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem.

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.

O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele.

Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.

A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.

Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.

A vida sem ciência é uma espécie de morte.

Transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada.

Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e será sábio

Inteligente é aquele que sabe que não sabe nada.

Sócrates

Frases de Friedrich Nietzsche - Pausa para o pensar.

Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.

Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.

As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física.

Torna-te aquilo que és.

Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.

As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.

Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo.

É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.

O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele.

Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.


Friedrich Nietzsche

De onde vem o Mal?

Se, no princípio, era o bem, donde vem o mal?

Na herança religiosa do judaísmo, a fé cristã professa que a origem de tudo que é, o universo e todas as suas criaturas, advém de um só e mesmo criador, o único Deus. Fora dele, não há nenhum outro deus. Absolutamente, tudo provém de sua inescrutável criatividade e infinita bondade. Está inscrito, para sempre, no livro das orações, comum a ambas as comunidades de fé, o judaísmo e o cristianismo: Senhor, meu Deus, vós sois imensamente grande. De majestade e esplendor vos revestis... Quão variadas, Senhor, são as vossas obras. Todas, com sabedoria e bondade, as fizestes. Cheio está o universo das vossas riquezas (Sl 104). Mais ainda: Judaísmo e Cristianismo crêem e professam que tudo quanto Deus fez é bom (Gen 2), porque querido e originado de sua bondade.
Mas não é possível negar a vigência do mal. Historicamente, todos o experimentamos. Ora como suas vítimas, ora como seus feitores, ora em claros contornos e figurações, ora difusa e incognitamente. Às vezes, ele vem de fora, contra nós, envolvendo-nos em sua teia, ferindo-nos com sua malícia. Outras vezes, ele vem de dentro, do obscuro de nós mesmos, espalhando ao nosso redor seu veneno e sua maldade. Ás vezes o fazemos propositadamente. Outras vezes, involuntariamente, contra nossas próprias intenções (Rom 7,19-20).
O que é isto, perguntamos, então, às vezes entristecidos, às vezes perplexos, às vezes feridos, às vezes decepcionados conosco ou com aquele que nos fez o mal... o que é isto, afinal, que, contra nosso próprio desejo, contra nossa sensibilidade, contra o senso de humanidade, nos atrai para dentro de uma verdadeira ciranda de frieza, malevolência, agressões, violência e inumanidades?
As Escrituras Sagradas Judaicas e Cristãs não têm dúvida: O mal não tem origem em Deus. Nem tampouco nalgum outro princípio correlativo a Deus, sempiterno como ele, ou num princípio do mal, um concorrente do bem e da bondade. Originário é o bem e ele apenas.
Mas se, no princípio, era o bem, donde vem o mal? As mesmas Escrituras Sagradas insinuam uma resposta, já nas suas primeiras páginas (Gen 3). É a própria criatura (serpente / homem) que, ciente de sua pequenez e finitude (terra / rastejar), quer ser mais do que é, sim, quer ser como Deus (sereis como Deus). Um desejo aparentemente bom e virtuoso (fruto agradável aos olhos e ao paladar), mas a origem de todos os desacertos e males, pois sempre que o homem quer ser deus (senhor / onipotente / onisciente / princípio / a perfeição), ele transforma a sua própria vida, a vida de todos e do mundo num inferno.
Sob a aparência do bem, eis como entra no mundo e nos homens o mal. Uma insídia ardilosa que forja o bem e o promete, sem, porém, jamais cumprir sua promessa. Na verdade, uma grande e enganosa farsa, assim é o mal. E assim são os homens possuídos por ele: não demônios, mas enganados por sua própria natureza. Homens que, querendo ser grandes, estão dispostos às mais odiosas baixezas. Que, querendo ser perfeitos, são capazes das mais abomináveis mentiras. Que, querendo o mundo, perdem-se a si próprios. Que, por um punhado de moedas, prestam-se a trair não apenas a outros, mas a si próprios. Que, querendo tudo possuir, vendem-se a si mesmos abaixo de sua humanidade. Que, querendo valer mais do que já valem (bom), perdem até o que já são. Que querendo ser deuses, se transformam em pobres diabos, ou em caricaturas humanas, infelizes e perdidos do caminho.

(Frei Prudente Nery, grande teólogo brasileiro, faleceu em junho de 2009)

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China . Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.

Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: ' Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual - pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais...

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.

Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.
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Frei Betto é escritor

A última noite de Maria


No dia 1º de novembro de 1950, Papa Pio XII, após sondar a tradição da Igreja e ouvir todos os bispos católicos (1949), promulgou solenemente a “Assunção de Maria”. A Igreja verbalizava, assim, com clareza e em caráter definitivo, uma antiqüíssima convicção da fé cristã. Do Concílio de Calcedônia (451) ao Concílio Vaticano I (1869 - 1870), a crença de que Maria, por sua vida singular, estaria, já agora, na glória de Deus, foi professada por incontáveis cristãos.
Nós te louvamos, Senhor do universo. Pois, hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Ela é consolo e esperança para o teu povo ainda em caminho. Pois, nela, vemos o nosso futuro, canta o prefácio de sua festa. Pois esta é a nossa esperança: que, um dia, para além da morte e do mundo, seremos acolhidos por Deus, com tudo aquilo que compôs a nossa vida. Não apenas naquilo que fomos lá dentro de nós mesmos, em nossa interioridade (alma), mas também com tudo aquilo que, no âmbito de nossa vida, aprendemos a querer bem e que, por isso, passou a integrar a totalidade de nosso ser (corpo). Dentro e fora, o que fomos em nossos secretos sonhos (alma) e o que conseguimos ser em nossa realidade (corpo), o que construímos em nossa interioridade (alma) e o que partilhamos com os outros e recebemos do mundo (corpo).
Corpo, precisaríamos precisar melhor, é muito mais do que apenas este amontoado orgânico de células, a nossa carne. Ele é também o olhar, a destreza dos dedos, a generosidade das mãos, a palavra, o ouvir, o bailar, o drible, o saltar, o dobrar os joelhos, o suor, a lágrima, a luta, o afago que se dá e se recebe, o beijo, esta carícia dos corações.
Ainda que nos sintamos bem em nossa pele, nossa carne não é apenas o lugar do nosso ser, a visibilidade ou o sacramento de nosso mistério. Ela é também um limite e, em muitos casos, um terrível sofrimento. Nosso coração quer voar, mas a carne nos retém ali. A saudade nos convida para longe, mas, no cárcere de nossa carne, não podemos abraçar a pessoa amada. O espírito, lúcido ainda, quer realizar tantos sonhos, mas a força dos braços já não basta mais. E as dores inexprimíveis que, cravando-se na carne, roubam toda a alegria de viver.

Um dia, assim o cremos, no ocaso de nosso mundo e na manhã da eternidade, os limites cessarão e os sacramentos já não serão mais necessários, pois veremos a graça, face a face. De igual modo, também conosco. A casca rebentará e, de dentro do ovo, irromperá um pássaro de inimaginável beleza, a totalidade de nossa vida. Para trás ficarão alguns restos, já não mais necessários, pois foram apenas o lugar de maturação para o nosso último destino: a morada de Deus.
Em torno do ano 600, o Imperador Maurikios Flavios Tiberios determinou que fosse celebrada, em todo o território oriental do Império Romano, no dia 15 de agosto, a festa da Dormitio Mariae (O Sono de Maria), em recordação do dia em que a Mãe de Jesus Cristo teria deixado este mundo e ido para o céu. Pois contava-se, a essa época, que, certo dia, nossa mãe, Maria, recolheu-se em sua casa. Não se sabe bem se nas proximidades de Jerusalém, no Monte Sião, ou se em Panagia Kapulü, ao sul de Éfeso. E aí, no corpo, o cansaço dos muitos anos e, na alma, a saudade de seu filho, ela adormeceu. E naquela noite, enquanto ela dormia, vieram dos céus multidões de anjos e, tomando-a nos braços, carregaram-na para junto de seu filho.
Verdadeiramente: para aquele que crê, nunca a morte será um fim. Mas um sono, em que, desfeitos de nossos limites, finalmente voaremos ao encontro de Deus, nossa origem e nosso último destino.

(Frei Prudente Nery, grande teólogo brasileiro, faleceu em junho de 2009)

Maria: mãe nossa e companheira na fé

É esta política que queremos???

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Em memória ao meu eterno MESTRE - Frei Prudente Nery


Sempre garimpei as palavras, textos e pensares de Prudente Nery. Um dia, anotei falas de Prudente numa rara aula. Ajuntei estas e outras pérolas de sua fala. Divido aqui com vocês num raro e inédito momento de um poético pensar Prudente:

Podemos renegar a Jesus... mas a melodia de nossa voz trai que estivemos próximo dele.

Só os Anjos conseguem, na sua delicadeza, arrancar a pedra dos corações tristes.

As estrelas do céu nos dizem mais dos mortos do que uma sepultura. Procure entre as estrelas aquele que está mais próximo de você que antes.

Para todos aqueles que tem o coração em Deus, a morte é um dormir em seus braços.

Não existe morte, mas uma transposição de muros.

É sempre o Coração que primeiro percebe as verdades essenciais da vida.

A vida só é possível à luz da fé... abrindo as paredes do medo.

O mais perigoso é ficar e morar nas garras do medo. É preciso sair para fora. Olhando nos olhos do risco. A vida é cheia de riscos.

É mil vezes melhor perder a vida do que enterrá-la na sepultura do medo.

Por mais que caiamos na vida, nunca cairemos mais fundo do que nos braços de Deus.

Na frieza de nossa vida também habita Deus.

O ser humano não é perverso em si mesmo, apenas desajeitado. É alguém de coração ferido.

A graça se compõe no chão da natureza, e faz com que ela mostre todo o seu vigor.

Não se prenda ao que está à direita ou à esquerda. Olhe para frente e siga Jesus.

É impossível instaurar qualquer paixão por alguém, se não nos apaixonarmos pelo mesmo que esta pessoa ama.

Francisco sentia Jesus Cristo como sua alma gêmea.

Do rosto de Jesus retiramos a Beleza de nossa vida.

Existe só uma forma de se falar de Deus para a Humanidade: quando nas asas de nossa fala, transportamos o humano para Deus.

O vinho e o pão tem o sabor da ausência Daquele que agora é mais presente.

Ter fé é não acreditar que somos filhos de um pai e de uma mãe, mas do gracioso encontro do Finito e do Infinito, da Mãe Terra e do Pai Céu.

Cada filho que nasce é filho da virgem Mãe Terra, útero que se abre e fecha a cada vez.

“A obra de arte é uma mentira que nos faz ver a mais profunda verdade das coisas”, este pensamento é de Picasso, mas como gostaria que ele tivesse vindo das minhas entranhas.

A moral consegue muitas coisas, só não consegue abrir as portas do coração.

O diálogo só acontece quando quebramos nossos preconceitos e pisamos na terra do outro.

Quem faz a experiência do Amor sabe ter limites.

Quem está em paz sabe muito bem o que deve fazer.

Mendigos somos quando refletimos e deuses somos quando sonhamos.

É mais nobre enfrentar a morte de cabeça erguida do que ficar no matadouro de cabeça baixa.

A bondade é muito frágil diante dos bombardeios da vontade.

Tudo o que cair sobre a pedra se quebra, mas se deixar ela cair sobre si, sentirá o peso de ser esmagado.

As pessoas que mais precisam de ajuda, mais temem ser ajudadas.

É possível matar a vida do humano, mas não é possível trancar o coração de Deus.

É mais nobre morrer por uma causa do que por acaso.

Não sei que acaso levou Prudente para a Eternidade. Só sei que suas palavras ficarão para sempre em nós, do mesmo jeito que cantávamos os "Fragmentos de uma Canção quase Rude":

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A ESCOLA – Paulo Freire

"Escola é...
o lugar onde se faz amigos
não se trata só de prédios, salas, quadros,programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente,
cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz."