Paradoxos da qualidade Brasil
O Brasil
melhora em quantidade e tropeça em qualidade. O
IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano) de 5.565 municípios brasileiros,
divulgado pelo IPEA a 29 de julho, subiu 47,5% nos últimos 20 anos.
Em 1991, o
índice de municípios com IDH “muito baixo” era de 85,8%. Hoje, apenas 0,6%.
Naquele ano, nenhum município mereceu a classificação de “muito alto”. Em 2000,
apenas São Caetano do Sul, no ABC paulista. Agora, 44 municípios brasileiros
têm IDH “muito alto”, entre os quais Belo Horizonte, que ocupa a 20ª posição.
Nosso país
melhorou na longevidade, no crescimento da renda da população e na educação. Em 20
anos, a vida média do brasileiro passou de 64,7 anos para 73,9. A renda cresceu
14,2%. Um ganho de R$ 346,31.
Mas é bom
não esquecer que, se há dez galinhas e dez pessoas, não significa que há uma
galinha para cada pessoa. Uma delas pode ser dona de 9. Nossa distribuição de
renda ainda é das piores do mundo. Basta lembrar que o Brasil é a quarta maior
fortuna em paraísos fiscais!
Bilionários
brasileiros vivem se queixando dos impostos. Da boca para fora. Pesquisa aponta
o Brasil como a quarta fortuna mundial em paraísos fiscais: US$ 520 bilhões
(mais de R$ 1 trilhão ou quase 1/3 do PIB brasileiro, que foi de R$ 3,6
trilhões em 2010). Tudo dinheiro sonegado.
Nem tudo
são rosas também em nosso IDH. Quase 30% das cidades brasileiras têm IDH “muito
baixo” no quesito educação. E apenas 5 cidades merecem o índice “muito alto”.
A educação
é o grande entrave da qualidade Brasil. Menos da metade de nossos jovens de 18
a 20 anos termina o ensino médio: 41% dos alunos. Há 20 anos, apenas 13% dos alunos
não se diplomavam no ensino médio. Nisso o Brasil anda a passo de caranguejo,
para trás. Se 59% dos jovens não possuem ensino médio completo, fica difícil
para o nosso país suprir seu atual déficit de profissionais qualificados, como
médicos e engenheiros.
“O Brasil
avançou na universalização do acesso à educação. Agora é preciso universalizar
a aprendizagem”, afirma Priscila Cruz, do Todos pela Educação. E resgatar a
qualidade de nossas escolas públicas, hoje sucateadas.
O Distrito
Federal possui o melhor IDH entre as unidades de nossa federação. Minas ocupa o
9º lugar. Entre as capitais, Belo Horizonte fica em 5º lugar, atrás de
Florianópolis, Vitória, Brasília e Curitiba. Alagoas e sua capital, Maceió,
amargam o mais baixo IDH brasileiro.
Convém
salientar que 99% dos municípios com IDH em educação “alto” ou “muito alto”
ficaram abaixo das notas consideradas satisfatórias, em Língua Portuguesa e
Matemática, na Prova Brasil de 2011.
Os
problemas de nosso ensino médio são a falta de qualidade (sem tempo integral,
informática, laboratórios, e com professores mal remunerados e sem formação
contínua) e o abismo entre o que se ensina e a realidade em que vivem os nossos
jovens (falta de pedagogia e adequação às novas tecnologias).
Em 2009, o
Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) classificou o Brasil na
53ª posição entre 65 países, atrás do México, Uruguai e Chile. Raros os alunos
de nossas universidades que conseguem escrever uma simples carta sem graves
erros de concordância. Falta à maioria o hábito de frequentar a boa literatura.
É preciso
ouvir a voz das ruas. De nossos jovens, 85,2% consideram a educação prioridade.
O governo federal não pode continuar, em matéria de educação, em passos de
escola de dança, um para frente e dois para trás, como no caso dos cursos de
medicina. É urgente a aplicação de ao menos 10% do PIB na educação, o
incremento do ensino profissionalizante e o resgate da escola pública gratuita,
em tempo integral e de qualidade.
Em
conferência para mais de 5 mil profissionais do ensino, em Brasília, pedi que
levantassem as mãos quem era professor. Quase todos o fizeram. Em seguida, pedi
que fizessem o mesmo gesto quem sonha em ter o filho ou a filha no magistério.
Pouquíssimas mãos se ergueram. Triste o país que não se orgulha de seus
professores, concedendo-lhes condições dignas e qualificadas de trabalho.
Frei Betto