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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

20 de novembro - Dia da Consciência Negra



20 de novembro - Dia da Consciência Negra

Dia da Consciência Negra
O dia 20 de novembro é o dia da Consciência Negra. A data foi escolhida pelo Movimento Negro em contraposição ao 13 de maio (dia da suposta abolição da escravatura) e é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, que faleceu neste dia há 308 anos. Zumbi foi o líder do Quilombo dos Palmares - que é considerado o maior foco de resistência negra à escravidão no Brasil. Mais de três séculos após a sua morte, constata-se que o racismo não deixou de existir, ou de se manifestar cruelmente. Na verdade, a opressão de cor somente modernizou-se, assim como a sociedade da opressão modernizou suas formas de dominação durante os anos.
As diversas organizações ligadas à questão racial têm esta data como um ponto de convergência para manifestações e reflexões sobre suas formas de luta e atuação por uma sociedade que saiba respeitar, contemplar e congregar as diferenças. Podem ser tomadas como exemplo a adoção - em meio a muitas discussões ainda em vigência - das Ações Afirmativas - cotas para negros, que já estão em vigor em universidades como a UERJ, UnB, UFAL e UNEB e a lei que obriga o ensino da história africana e afrobrasileira nas escolas, por exemplo.
Manifestações, atos e passeatas estão sendo organizados em todas regiões do país. As cidades de Piracicaba, Campinas, Limeira, Hortolândia, Ribeirão Pires, Santa Bárbara D'Oeste (SP), União dos Palmares (AL), Cuiabá (MT), Pelotas, Porto Alegre (RS) e Macapá (AP) e o estado do Rio de Janeiro instituíram o dia da Consciência Negra como feriado.
" Ter consciência negra, significa compreender que somos diferentes, pois temos mais melanina na pele, cabelo pixaim, lábios carnudos e nariz achatado, mas que essas diferenças não significam inferioridade.
Ter consciência negra, significa que ser negro não significa defeito, significa apenas pertencer a uma raça que não é pior e nem melhor que outra, e sim, igual.
Ter consciência negra, significa compreender que somos discriminados duas vezes: uma, porque somos negros, outra, porque somos pobres, e, quando mulheres, ainda mais uma vez, por sermos mulheres negras, sujeitas a todas as humilhações da sociedade.
Ter consciência negra, significa compreender que não se trata de passar da posição de explorados a exploradores e sim lutar, junto com os demais oprimidos, para fundar uma sociedade sem explorados nem exploradores. Uma sociedade onde todos tenhamos, na prática, iguais direitos e iguais deveres.
Ter consciência negra, significa sobretudo, sentir a emoção indescritível, que vem do choque, em nosso peito, da tristeza de tanto sofrer, com o desejo férreo de alcançar a igualdade, para que se faça justiça ao nosso Povo, à nossa Raça.
Ter consciência negra, significa compreender que para ter consciência negra não basta ser negro e até se achar bonito, e sim que, além disso, sinta necessidade de lutar contra as discriminações raciais, sociais e sexuais, onde quer que se manifestem. " (Raimunda Nilma de Melo Bentes, Cedenpa ).
O 20 de novembro trata da data do assassinato de Zumbi, em 1665, o mais importante líder dos quilombos de Palmares, que representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada de mais 30 mil. Em várias sociedades escravistas nas Américas existiram fugas de escravos e formação de comunidades como os quilombos. Na Venezuela, foram chamados de cumbes, na Colômbia de palanques e de marrons nos EUA e Caribe. Palmares durou cerca de 140 anos: as primeiras evidências de Palmares são de 1585 e há informações de escravos fugidos na Serra da Barriga até 1740, ou seja bem depois do assassinato de Zumbi. Embora tenham existido tentativas de tratados de paz os acordos fracassaram e prevaleceu o furor destruidor do poder colonial contra Palmares.
O que está ocorrendo
Está ocorrendo que as populações negras vivem em espaços geográficos que não recebem políticas públicas. São áreas sobre as quais o conhecimento científico é praticamente inexistente. Forma-se um círculo vicioso, nada se sabe; e nada se faz de coerente porque nada se sabe. As políticas universalistas do Estado se mostraram inócuas. No governo passado, através de pesquisa do IPEA concluiu-se o que os movimentos negros vinham dizendo há quase 30 anos: há a necessidade de políticas específicas. No entanto, quase nada se sabe sobre essas especificidades pois os pesquisadores e os atuais temas das pesquisas têm a ver com interesses que não são os das populações de descendência africana. Negro e afrodescendentes aqui são sinônimos, definições que vão além das denominações de raça e raça social. Estão ligados ao trânsito da história e a enfoques nos processos de dominação e na produção étnica da submissão neste país. Nós temos falado da necessidade de pesquisas e de produção de conhecimentos sobre os territórios de maioria afrodescendente. Mas não há pesquisa, não há política pública, não há solução objetiva dos problemas.
A democracia prevê a representação de todos os grupos sociais em todas as instâncias de decisão. No estágio atual do capitalismo, a pesquisa científica e os grupos de pesquisadores constituem um grupo privilegiado de exercício do poder, quer pela ação direta na participação nos órgãos de decisão do Estado, quer pela ação indireta através da difusão dos conhecimentos que justificam as ações dos poderes públicos. Os grupos sociais cujos membros não fazem pesquisa ficam alijados dessas instâncias de poder. A ausência de pesquisadores negros tem reflexo nas decisões dos círculos de poder. Vide que temas como a educação e a saúde dos afrodescendentes só passam para a pauta do Estado brasileiro depois que os movimentos negros, com esforços próprios, formaram uma centena de especialistas e pesquisadores nessas áreas e produziram um número relevante de trabalhos científicos.
Por que não existe mais pesquisa e mais pesquisadores? Por que não se quer ter. Não existe vontade política das instituições universitárias e muito menos dos órgãos de política científica do Estado. Os movimentos negros têm sido muito ativos nas propostas de políticas públicas de ações afirmativas para formação de pesquisadores negros. Estas propostas só têm recebido a atenção de setores isolados da sociedade e das fundações internacionais.
São infindáveis as posições e contraposições que o tema encerra. Ainda temos uma mentalidade nacional avessa à existência de negros ou, pelo menos, insensível a qualquer manifestação de afirmação da existência de identidades negras. A aversão não é contra a existência material desses seres ditos negros, mas contra a existência política dos mesmos. Tal qual durante o período do escravismo criminoso, persiste a ótica dominante do medo branco com relação a onda negra. As idéias convenciam a sociedade que o perigo era negro, enquanto a criminalidade oficial branca do Estado e todos os processos de dominação impostos pela matriz européia não eram vistas como perigosos, danosos e dolosos para a sociedade. Tal mentalidade continua se processando, sob novas formas de inculcação, com os mesmos resultados de um certo pânico e pelo menos indisfarçável desconforto frente à visão da organização política, cultural e identitária de negros.
O país funciona bem, é democrático, a Constituição veda qualquer discriminação de raça, sexo ou religião. Essa é a visão conformista e utilitária da nossa situação: a harmonia. Quando algum pesquisador de pele clara se auto-denomina negro, correm os pares, as vezes até mais escuros que ele, a dissuadi-lo com uma enxurrada de argumentos e este passa a ser visto como o produtor da discórdia. "Quem é negro nesta sociedade? Somos todos mestiços. Temos todos um pouco de escravizado e escravizador no nosso passado.”
Quem se denomina negro passa a ser o importador de temas estanhos à comunidade harmônica brasileira. As falácias desses argumentos não são analisadas com o rigor da comunidade científica, ficam no pseudo senso científico. As referências biologizantes do tema superam as referências políticas e sociais. Pesquisadores da história se esquecem dos conceitos da história social e se amparam no argumento biológico. Socialmente, nós não temos nada do escravizador, visto que este não mestiçou a sua propriedade com a nossa. Vejam que o escravizador sempre vendeu os filhos que teve como as escravizadas como mais um escravo. A nossa dita morenidade não está representada na distribuição de renda do país. Importada é a maioria ou quase totalidade das idéias científicas difundidas no país. Quais seriam os critérios da condenação de uma importação de idéias em particular? Ou só no campo das relações étnicas é que não é cientifico importar idéias? A crítica da importação também mostra uma ignorância sobre a nossa história social, já que os movimentos negros do Brasil, há mais de um século, pautavam essas temáticas.
É certo que nos damos bem, no campo informal. Pulamos carnaval juntos e jogamos futebol. Mas não estudamos juntos e, muito menos, pesquisamos juntos. "Mas é um problema social". Não temos dúvida que é um imenso problema social, mas para o qual não se procura solução. Existem aqueles que nos dizem que têm em casa uma negra empregada e dizem que é como se fosse da família, mesmo que não dividam com ela o capital cultural, a educação dos filhos ou o seguro saúde da família. No Brasil, até o cachorro é membro da família.
Desde que organizamos a Associação de Pesquisadores Negros, em 2000, com intuito de acelerar o processo de pesquisa das temáticas de interesse dos afrodescendentes, tenho ouvido pelos corredores, e às vezes explicitamente, argumentos da ordem: pesquisa não tem cor; ou que as temáticas abordadas por nós não são suficientemente universais; ou seja, não fazem parte da ciência. Concordo que a pesquisa não tem cor, mas as políticas científicas, que não têm nada a ver com o cerne do fazer científico, essas têm os atributos de cor, de grupo social, de grupo histórico, de marginalizações e de produção das desigualdades sociais, econômicas e políticas. Quem detém o poder detém a primazia da ciência e determina quais temas são parte ou não da ciência. Veja que o mesmo universalismo científico fez com que todas as teorias racistas fossem produzidas, divulgadas e aplicadas pelos corpus científicos. Então, o argumento da universalidade da ciência não serve como científico, em face da própria história da sua construção eurocêntrica. Mesmo ainda por que as ciências físicas hoje travam um imenso debate sobre as idéias de generalização e universalização da ciência, visto as discordâncias sobre a natureza do tempo e do espaço, sobre a lógica da previsibilidade da ciência destruída pela teoria do caos. Podemos quase afirmar que não existe uma ciência universal, pelo menos nos moldes que era concebida há 30 anos atrás.
A formação dos pesquisadores negros passa por todos esses obstáculos ideológicos, políticos, preconceituosos, eurocêntricos, de dominações e até mesmo de inocências úteis vigentes nas instituições de pesquisa e nos órgãos de decisão sobre as políticas científicas. É fundamentalmente um problema político de concepção da sociedade e das relações sociais. Problema que a sociedade científica se nega a reconhecer como um problema, se negando a tratá-lo e colocá-lo na agenda das preocupações. O mesmo ocorre na esfera governamental, que de certa forma reflete o pensamento das instituições de pesquisa.
O capitalismo segue fabricando seus negros. Utiliza a produção científica para reatualizar as estratégias de dominação e subordinação desses negros produzidos. As definições sobre os negros e sobre nossas condições de vida seguem se alterando ao longo do último século. Para se ter uma idéia dessa dinâmica basta acompanhar as modificações que as Nações Unidas tiveram sobre a temática. Mas a média dos pesquisadores brasileiros permanece alheia a essas definições e redefinições. A maioria ainda pensa o negro no mesmo referencial racista e biológico do século XIX. Praticam as concepções da existência de raças humanas e de seus atributos. Vide, como exemplo, o imenso sucesso que o livro Casa Grande & Senzala ainda faz entre eles. Participam de um subdesenvolvimento científico mental nesse setor das relações étnicas, com graves conseqüências para as populações afrodescendentes. Sob um discurso de democracia e igualdade, impõe-se descasos e discriminações sobre a necessidade de pesquisas em temas de interesse da população negra e da formação de pesquisadores originários desse grupo social.


Aprender a pensar: um breve ensaio filosófico

Aprender a pensar: um breve ensaio filosófico
possível alguém aprender a pensar? Ninguém nasce sabendo pensar. O pensar é uma aprendizagem que o ser humano carrega para a vida toda. É uma realidade absolutamente nova em relação a tudo que existe no mundo. Nos primórdios o ser humano tinha a rudeza que apenas o separava do animal bruto. O ser humano trilhou uma longa caminhada.
Vamos pensar o pensar?
1. Do pensar espontâneo ao pensar reflexo.
Todo ser humano pensa. Mas nem sempre o faz de maneira reflexa. O pensar espontâneo fixa-se no objeto pensado. Termina praticamente aí seu processo de conhecimento. Interessa-nos aqui “aprender a pensar”. Isso significa passar de um nível espontâneo, primeiro e imediato a um nível reflexo, segundo, mediado.
2. Provocador do processo.
Como aprender a entrar nesse processo e não permanecer unicamente no simples pensamento direto, imediato, espontâneo? O segredo está em saber levantar perguntas, aprender a aprender. O segredo do pensar: alguém prenderá a pensar à medida que souber fazer-se perguntas sobre seu pensamento. A capacidade de avançar na reflexão depende de ir se fazendo perguntas, respondendo-as e, em seguida, levantando novas perguntas a estas respostas até esgotar toda a facúndia interrogativa.
3. Experiência na base da pergunta.
Há, porém, perguntas fundamentais. A elas nos referimos. Estão em jogo a vida, o ser, os valores transcendentes. Percebemos como é importante não viver totalmente envolvidos num círculo fechado de afins culturais, religiosos, humanos,que nos trancam na identidade repetitiva de nós mesmos e não permitem que nos venham a emergir perguntas fundamentais. Trata-se da experiência do diferente, da alteridade, da ruptura da “mesmidade”.
TRÊS ATITUDES PARA SABER PENSAR:
O pensar supõe um tríplice movimento a que correspondem três perguntas:
I. O que diz a realidade? Distância: momento objetivo. A arte de pensar inicia com uma pergunta sobre a realidade. É um momento de humildade, de escuta, de honestidade objetiva. A arte de pensar começa com a educação da leitura, despojando-se, enquanto possível, dos preconceitos ideológicos, religiosos, dogmáticos.
II. O que me diz a realidade? Proximidade: momento subjetivo. Quando perguntamos a nós mesmos pela realidade, pelo texto lido, a resposta será o que assimilamos, aprendemos. Aqui mora nossa originalidade.
III. O que a realidade me faz dizer? Comunicação: momento intersubjetivo. Não aprendemos só para nós. Existe para fazer a comunidade crescer. Cumpre uma função social e moral. Pensar termina num serviço qualificado à comunidade.
PENSAR AS PARTES NO TODO E O TODO NAS PARTES
Aprender a pensar encontra-se numa encruzilhada: a superespecialização, que fragmenta os conhecimentos de tal forma que se perde a noção do conjunto. Saber pensar é precisamente situar os problemas, as realidades em seus contextos. Um pensar multidimensional, que se opõe ao fragmentar, ao compartimentar e ao pulverizar os saberes.
A cultura do estudo e da leitura.
Cultura do estudo significa hábitos comuns, comportamentos normais, referências consensuais de que estudar, ler, não é loucura, mas deveria ser o normal de alguém que vive no mundo de hoje. Ler e estudar fora de aula e por gosto deveria ser um hábito cultivado desde os jovens anos de vida.
DINÂMICA: Exercício de distinção.
I. O ser humano é racional e irracional.
II. O ser humano é bom e é mal.
III. Lutero diz que “somos ao mesmo tempo justos e pecadores”.
IV. O Brasil é um país rico e pobre.
Aprender a pensar: um breve ensaio filosófico - Síntese do cap. 2 de INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL – JOÃO BATISTA LIBANIO, Loyola.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Texto Complementar - Para Alunos da Escola Deuzuíta

Diálogo entre ciência e fé
Fé e ciência nem sempre tiveram um bom diálogo. As primeiras respostas às indagações do ser humano a respeito do cosmo, dos fenômenos naturais e da vida foram dadas pela religião. Xamãs, feiticeiros, gurus e sacerdotes faziam a mediação entre o Céu e a Terra.
A religião é filha da fé e a ciência, da razão. Frente às pesquisas científicas dos gregos antigos a religião mirou com os olhos da desconfiança. Não admitia que os fatos narrados na Bíblia fossem apenas mitos e símbolos, sem base científica, como a existência de Adão e Eva, a construção da Torre de Babel e o Dilúvio Universal.
Durante 1.300 anos a Igreja se apegou à cosmologia de Ptolomeu (90-168), adequada à crença de que a Terra é o centro do Universo, no qual Deus se encarnou em Jesus.
Se a fé parte de verdades reveladas que, por sua vez, exigem adesão de fé, sem comprovação experimental, a ciência é o reino da dúvida e se apóia em pesquisas empíricas. A fé apreende a essência das coisas; a ciência, a existência.
Para a ciência, não importa quem ou o porquê, importa o como. A ela não interessa quem criou o Universo e qual a finalidade de nossas vidas. Quer saber como funcionam as leis cosmológicas, como as forças da natureza interagem entre si, como retardar o envelhecimento de nossas células, ampliando nosso tempo de vida.
O diálogo entre fé e ciência iniciou-se quando, na modernidade, a razão se emancipou da religião. Copérnico, Galileu e Giordano Bruno que o digam. Houve atritos e condenações recíprocas, até que a extensa obra do jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) – geólogo, paleontólogo e téologo – fez a Igreja Católica reconhecer que a fé pode não estar de acordo com o uso que se faz de descobertas científicas, como a fissão do átomo para a construção de ogivas nucleares, mas jamais negar a autonomia da ciência e o modo como ela desvenda os mistérios da natureza.
Nesse intuito de atualizar o diálogo entre a ciência e a fé é que a editora Agir reuniu, durante três dias, em hotel do Rio, o físico teórico Marcelo Gleiser e eu, mediados por Waldemar Falcão, espiritualista e pesquisador de fenômenos esotéricos. De nosso encontro resultou o livro "Conversa sobre a fé e a ciência", que chegou esta semana às livrarias.
Marcelo Gleiser é originário de família judia, formado em física pela PUC-Rio e hoje professor e pesquisador na Universidade de Dartmouth, nos EUA. Autor de excelentes obras, como a recente "Criação Imperfeita" (Record), Gleiser considera-se agnóstico. Surpreendeu-me seus conhecimentos de história das religiões e de como elas se relacionam com a ciência.
Não tenho formação científica, mas muito cedo me interessei pelas obras de Teilhard de Chardin. Em 1963 publiquei apostilas sobre seu pensamento, hoje reunidas no livro "Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin", cuja nova edição a Eitora Vozes fará chegar às livrarias ainda este ano.
Mais tarde, vi-me obrigado a me improvisar em professor de química, física e biologia num curso supletivo. O dever virou prazer e me levou a escrever "A obra do Artista – uma visão holística do Universo", cuja nova edição a José Olympio prepara para o segundo semestre.
Gleiser leu meus livros e eu os dele, o que favoreceu o nosso diálogo, no qual houve mais convergência que divergência, sobretudo no que concerne à correta postura da ciência diante da fé e da fé diante da ciência.
São esferas independentes, autônomas e que, no entanto, encontram suas sínteses em nossas vidas. Ninguém prescinde da ciência e de sua filha dileta, a tecnologia, assim como todos têm uma dimensão de fé, ainda que restrita ao amor que une marido e mulher.
Marcelo Gleiser e eu coincidimos que a finalidade da ciência não é obter lucros (vide as indústrias farmacêuticas e bélicas), e nem a da fé impor verdades (vide o fundamentalismo) ou arrecadar fundos (Jesus é o caminho, mas o padre ou pastor cobram o pedágio...).
Ciência e fé servem para nos propiciar qualidade de vida, conhecimento da natureza e sentido transcendente à existência. Se pela fé descobrimos a origem e a finalidade do Universo e da vida,e pela ciência como funcionam um e outro, tudo isso pouco importa se não nos conduz ao essencial: a uma civilização na qual o amor seja também uma exigência política.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade" (Agir). Site e Twitter: http://www.freibetto.org/ - twitter:@freibetto

Texto Complementar - Para os alunos da Escola Deuzuita

Saúde do povo, descaso do Estado
O neoliberalismo deu um tiro de misericórdia no Estado de bem-estar social. Destruiu os vínculos societários nas relações de trabalho, deslegitimou a representação sindical, deslocou o público para o privado. O que era direito do cidadão, como a saúde, passou a depender das relações de mercado e da iniciativa pessoal do consumidor.
Quem não tem plano privado de saúde entra na planilha dos cemitérios. Hoje, 40 milhões de brasileiros desembolsam, todo mês, considerável quantia, convictos de que, doentes, serão atendidos com a mesma presteza e gentileza com que foram assediados pelos corretores das empresas de saúde privada.
Os clientes se multiplicam e os planos proliferam, sem que a rede hospitalar acompanhe essa progressão. O associado só descobre o caminho do purgatório na hora em que necessita de resposta do plano: laboratórios e hospitais repletos, filas demoradas, médicos escassos, atendentes extenuados.
Em geral, o pessoal de serviço, que faz contato imediato com os beneficiários, não demonstra a menor disposição para o melhor analgésico à primeira dor: gentileza, atenção, informação sem dissimulação ou meias palavras.
Ora, se faltam postos de saúde e hospitais; se consultórios têm salas de espera repletas como estação rodoviária em véspera de feriado; se na hora da precisão se descobre que o plano é bem mais curvo e acidentado do que se supunha... a quem recorrer? Entregar-se às mãos de Deus?
O Brasil é o país dos paradoxos. O que o governo faz com uma mão, desfaz com a outra. O SUS banca 11 milhões de internações por ano. Muitas poderiam ser evitadas se o governo tivesse uma política de prevenção eficiente e, por exemplo, regulamentasse, como já faz com bebidas alcoólicas e cigarro, a publicidade de alimentos nocivos à saúde. A obesidade compromete a saúde de 48% da população.
Entre nossas crianças, 45% estão com sobrepeso, quando o índice de normalidade é não ultrapassar 2,3%. De cada cinco crianças obesas, quatro continuarão assim quando adultos. No entanto, as leis asseguram imunidade e impunidade a uma infinidade de guloseimas e bebidas, muitas anunciadas ao público infantil na TV e em outros veículos. Haja excesso de açúcares e gordura saturada!
A boa-fé nutricional insiste na importância de verduras e legumes. Mas a ANVISA (vigilância sanitária) não se empenha em livrar o Brasil do vergonhoso título de campeão mundial no uso de agrotóxicos. Substâncias químicas proibidas em outros países são encontradas em produtos vendidos no Brasil. Haja câncer, má-formação fetal, hidroencefalia etc.!
Entre 2002 e 2008, os acidentes de moto se multiplicaram 7,5 vezes no Brasil. Na capital paulista, são 4 mortes por dia. Muitos motoqueiros sobrevivem com graves lesões. No entanto, a fiscalização de veículos e condutores é precária e as vias públicas não são adaptadas ao tráfego de veículos de duas rodas.
Quem chega ao Brasil do exterior deve preencher e assinar um documento da Receita Federal declarando se traz ou não medicamentos. Em caso positivo, o produto e o passageiro são encaminhados à ANVISA. Ora, toneladas de veneno entram diariamente por nossos portos e aeroportos, e são vendidos em qualquer esquina: anabolizantes, energizantes, enquanto a TV veicula publicidade de refrigerantes com alto teor de cafeína e poder de corrosão óssea.
Embora todos saibam que saúde, alimentação e educação são prioritárias, o Ministério da Saúde dispõe de poucos recursos, apenas 3,6% do PIB, o que equivale, neste ano de 2011, a R$ 77 bilhões. Detalhe: em 1995 o governo FHC destinou, à saúde, R$ 91,6 bilhões. A Argentina, cuja população é cinco vezes inferior à do Brasil, destina anualmente duas vezes mais recursos que o nosso país.
Nossa saúde é prejudicada também pelo excesso de burocracia das agências reguladoras, a corrupção que grassa nos tentáculos do poder público (vide o prontuário da Funasa na sua relação com a saúde indígena), a falta de coordenação entre a União, os estados e os municípios. Acrescem-se a mercantilização da medicina, a carência de médicos e sua má distribuição pelo país (o Rio tem 4 médicos por cada 1.000 habitantes; o Maranhão, 0,6).
Governo é que nem feijão, só funciona na panela de pressão. Se a sociedade civil não exigir melhorias na saúde, no atendimento do SUS, no controle dos planos privados e dos medicamentos (pelos quais se pagam preços abusivos), estaremos fadados a ser uma nação, não de cidadãos, e sim de pacientes – no duplo sentido do termo. E condenados à morte precoce por descaso do Estado.
Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Deuzuíta - Texto - terceiros anos segundo bimestre 01

Texto complementar – Filosofia
Terceiros anos

A ciência
O que é ciência
O carbúnculo, doença infecciosa provocada por bactéria, trazia inúmeros prejuízos aos criadores de gado quando, em 1881, o francês Louis Pasteur se ocupou com o assunto. Levantou a hipótese de que os animais poderiam ser imunizados caso fossem vacinados com bactérias enfraquecidas de carbúnculo. Separou então sessenta ovelhas da seguinte maneira: em dez não aplicou nenhum tratamento; vacinou duas vezes as outras 25, e após alguns dias lhes aplicou uma cultura contaminada por carbúnculo; não vacinou as 25 restantes, mas inoculou a cultura contaminada. Depois de algum tempo, verificou que as 25 ovelhas não-vacinadas morreram, as 25 vacinadas sobreviveram e, comparadas com as dez que não tinham sido submetidas a nenhum tratamento, ficou constatado que a vacina não lhes prejudicara a saúde.

O método científico
O exemplo clássico de procedimento científico das ciências experimentais acima referido nos mostra o seguinte: inicialmente, há um problema que desafia a inteligência humana; o cientista elabora uma hipótese e estabelece as condições para seu controle, a fim de confirmá-la ou não. Mas nem sempre a conclusão é imediata, como no caso citado, sendo necessário repetir as experiências ou alterar inúmeras vezes as hipóteses. A conclusão é então generalizada, ou seja, considerada válida não só para aquela situação, mas para outras similares. Além disso, quase nunca se trata de um trabalho solitário do cientista, pois, hoje em dia, cada vez mais as pesquisas são objeto de atenção de grupos especializados ligados às universidades, às empresas ou ao Estado. De qualquer forma, a objetividade da ciência resulta do julgamento feito pelos membros da comunidade científica que avaliam criticamente os procedimentos utilizados e as conclusões, divulgadas em revistas especializadas e congressos.
A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, conseqüentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo.

Questões sobre o método
Em tese, o método experimental se caracteriza pelas seguintes etapas: observação, hipótese, experimentação, generalização (lei e teoria). Mas, na prática, o processo não se realiza necessariamente nesta ordem, podendo variar conforme as circunstâncias. Alguns pensadores chegam até a afirmar que os cientistas não seguem propriamente normas metodológicas, por não serem elas de fato verdadeiros instrumentos de descoberta. Mesmo não levando em conta tal posição extrema, é preciso realçar alguns aspectos sujeitos a discussão. Por isso vamos analisar cada etapa.
Método vem de meta, "ao longo de", e hodós, "via, caminho". É o percurso que se segue na investigação da verdade, a fim de se alcançar um fim determinado. Na ciência, o método consiste na estrutura racional que permite a formulação e verificação das hipóteses.

Observação e hipótese
Não é adequado pensar que a ciência começa seu trabalho pela observação dos fatos, só realizando a seleção de dados em fase posterior. Pois são tantos os fatos, que devemos selecionar os mais relevantes; mas como considerara relevância de um fato, a não ser que já tenhamos algumas hipóteses preliminares que orientem nosso olhar? Por exemplo, ao investigar as prováveis causas da Aids, o que deve o pesquisador observar? Evidentemente ele já deve ter de antemão critérios que o auxiliem nessa busca, caso contrário a pesquisa será cega, sem objetivo e destinada ao fracasso.
Portanto, observação e hipótese se acham sempre relacionadas de maneira recíproca. Se de início a hipótese orienta a seleção dos fatos, em outro momento mais avançado da pesquisa, já tendo sido feito o levantamento dos dados, ela tem o papel de reorganizar os fatos, dando-lhes uma interpretação provisória como proposta antecipada de solução do problema.
Há muita lenda em torno de qual seria a fonte da hipótese. As pessoas tendem a fantasiar a respeito do ato criador, e imaginam o "cientista genial" fazendo descobertas espetaculares com um passe de mágica. É bem verdade que a formulação da hipótese aproxima o cientista do artista, pois existe intuição e "iluminação súbita" (insight) nas descobertas científicas. Mas não convém exagerar este aspecto, pois sem dúvida ele é precedido por longo trabalho e rigorosa elaboração conceituai, sem o que os "clarões" talvez nem ocorressem ou se dispersassem no vazio. Além disso, para ser científica, a hipótese precisa ser verificada e confirmada pelos fatos e validada pela comunidade intelectual.

A confirmação da hipótese
A verificação da hipótese pode ser feita de inúmeras maneiras, dependendo das técnicas disponíveis e também do tipo de ciência. Por exemplo, em astronomia, a confirmação só pode ser feita mediante nova observação dirigida pela hipótese. Também são específicas as formas de verificação de hipóteses referentes à evolução das espécies, à origem do universo ou a um determinado período da história humana.
Algumas ciências têm condições de controle mais rigoroso por meio da experimentação. Diferentemente da observação, feita nas condições apresentadas naturalmente, a experimentação é a verificação dos fenômenos em
condições determinadas pelo experimentador (como no exemplo dado na abertura do capítulo).
A importância da experimentação é que ela se faz em condições privilegiadas, permitindo a repetição, variação das condições de experiências e simplificação dos fenômenos, o que torna o controle da investigação mais rigoroso.
A possibilidade de mensuração e a utilização de instrumentos dão maior precisão à ciência, pois permitem transformar as qualidades em quantidades. Por exemplo, o som é medido em decibéis, a temperatura é verificada na coluna de mercúrio, o peso é indicado pelo movimento da agulha na balança, o que supera as avaliações puramente subjetivas e imprecisas.
Existe portanto uma reciprocidade entre técnica e ciência, pois, se a técnica é condição de aperfeiçoamento da ciência, por sua vez o desenvolvimento cientifico tem provocado rápida evolução da tecnologia: se os estudos de ótica permitem melhorar os microscópios e telescópios, outros mundos se abrem diante do olhar humano por meio de instrumentos cada vez mais precisos.
No entanto, a possibilidade de utilização da matemática e da técnica varia conforme as ciências. A física é altamente "matematizável", o que não acontece com as ciências humanas. Embora possam, em algumas circunstâncias, recorrer às estatísticas, é preciso reconhecer que nem sempre isso é possível (voltaremos ao assunto mais adiante).

Generalização
Se a hipótese não for confirmada pela experimentação, o trabalho deve ser recomeçado. Mas, caso o resultado seja positivo, é possível fazer generalizações ou formular leis pelas quais são descritas as regularidades dos fenômenos.
A grande força do método científico reside na possibilidade de descoberta das relações constantes e necessárias entre os fenômenos, o que permite a previsibilidade e portanto o controle sobre a natureza.
As leis podem ser de dois tipos: generalizações empíricas e leis teóricas.
As generalizações empíricas, ou leis particulares, resultam da observação de casos particulares. Por exemplo, "o calor dilata os corpos", "o fígado tem função glicogênica", ou ainda a lei da queda dos corpos, a lei dos gases e assim por diante.
As leis teóricas ou teorias propriamente ditas são leis mais gerais e abrangentes que reúnem as diversas leis particulares sob uma perspectiva mais ampla. É o caso da gravitação universal de Newton, que engloba as leis planetárias de Kepler e a lei da queda dos corpos de Galileu. A teoria da relatividade de Einstein e a teoria evolucionista de Darwin são outros exemplos.
Apesar do rigor do método, não é conveniente pensar que a ciência é um conhecimento certo e definitivo, pois ela avança em contínuo processo de investigação que supõe alterações e ampliações necessárias à medida que surgem fatos novos, ou quando são inventados novos instrumentos.
Por exemplo, nos séculos XVIII e XIX, as leis de Newton foram reformuladas por diversos matemáticos que desenvolveram técnicas para aplicá-las de maneira mais precisa. No século XX, a teoria da relatividade de Einstein desmentiu a concepção clássica de que a luz se propaga em linha reta. A hipótese de que os raios luminosos que passam próximo do Sol sofreriam um desvio foi confirmada por observações durante o eclipse solar de 1919.
Isso serve para mostrar o caráter provisório do conhecimento científico, sem no entanto desmerecer a seriedade e o rigor do método e dos resultados. Ou seja, as leis e as teorias continuam sendo de fato hipóteses com diversos graus de confirmação e verificabilidade, podendo ser aperfeiçoadas ou superadas.
DROPES
Fazemos a ciência com fatos, como fazemos uma casa com pedras; mas a acumulação de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é uma casa. (Poincaré.)
Devemos considerar o estado presente do universo como o efeito de seu estado anterior e como a causa daquilo que vai seguir-se. Uma inteligência que, por um instante dado, conhecesse todas as forças de que a natureza é animada e a situação respectiva dos seres que a compõem, englobaria na mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais leve átomo; nada seria incerto para ela, e o futuro, como o passado, seria presente a seus olhos. (Laplace.)
A ciência se empenha em eliminar tudo o que nela for puramente pessoal. Procura remover tudo o que for único no cientista, individualmente considerado: recordações, emoções e sentimentos estéticos despertados pelas disposições de átomos, as cores e os hábitos de pássaros, ou a imensidão da Via Láctea. (Kneller.)

EXERCÍCIO
1 – Elabore 20 questões sobre o texto acima, sendo 10 de V – verdadeiro ou F – falso e 10 de perguntas e respostas.

terça-feira, 26 de abril de 2011

PRIMEIRO DE MAIO - DIA DO TRABALHADOR

No dia 1 de Maio de 1886 realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos da América. Essa manifestação tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de centenas de milhares de pessoas. Nesse dia teve início uma greve geral nos EUA. No dia 3 de Maio houve um pequeno levantamento que acabou com uma escaramuça com a polícia e com a morte de um dos protestantes. No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos polícias que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes. A polícia abriu então fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.
Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.
A 23 de Abril de 1919 o senado francês ratifica o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano dia feriado. Em 1920 a Rússia adopta o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.


Em Portugal

A decisão da Comuna de Paris, de decretar o 1º de Maio como o Dia Internacional do Trabalhador teve repercursões no nosso país. Diz-nos José Mattoso (in História de Portugal, vol. 5), que houve um reforço da luta do movimento operário português em finais do séc. XIX sendo "em torno da associação e da greve que gravita o próprio movimento operário". Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de laboração eram as principais exigências dos operários.
Mas, segudo o mesmo autor, o movimento operário alcançava grande força quando "aquelas (associações) a que hoje chamaríamos propriamente «sindicatos» se juntavam com as recreativas, as de socorros mútuos e os centros políticos". Tal ficou demonstrado no 1º de Maio de 1900 que juntou em Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que "as classes médias ainda viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia".
Durante a I República não se deixou de festejar o Dia do Trabalhador, mas sublinhe-se que um dos primeiros diplomas aprovados, com a instituição do novo regime, dizia respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o dia do trabalhador. Em 1933 é decretada a "unicidade sindical" e o "controle governamental dos sindicatos" esmorecendo um movimento operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Durante o Estado Novo as manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e controladas pelo Estado.
O primeiro 1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, foi a forma dos portugueses demonstrarem a sua adesão ao 25 de Abril, que uma semana antes restituía ao país a democracia.

PRIMEIRO DE MAIO

Na maioria dos países industrializados, o 1º de maio é o Dia do Trabalho.
Comemorada desde o final do século XIX, a data é uma homenagem aos oito líderes trabalhistas norte-americanos que morreram enforcados em Chicago (EUA), em 1886.
Eles foram presos e julgados sumariamente por dirigirem manifestações que tiveram início justamente no dia 1º de maio daquele ano.
No Brasil, a data é comemorada desde 1895 e virou feriado nacional em setembro de 1925 por um decreto do presidente Artur Bernardes.

Chicago, maio de 1886
Baixos salários e jornadas de trabalho que se estendiam até 17 horas diárias eram comuns nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal e aposentadoria não existiam. Para se protegerem em momentos difíceis, os trabalhadores inventavam vários tipos de organização – como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.
Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando maiores salários e redução da jornada de trabalho.
Greves, nem sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado.
Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos, também era um dos grandes centros sindicais.
Duas importantes organizações lideravam os trabalhadores e dirigiam as manifestações em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho).
As organizações, sindicatos e associações que surgiam eram formadas principalmente por trabalhadores de tendências políticas socialistas, anarquistas e sócio-democratas.
Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. Dia 1º de maio, os trabalhadores realizam uma grande manifestação – foi a última do período em que não houve violenta repressão policial. Nos dias seguintes, toda ação dos operários foi duramente reprimida pela polícia, com mortos, feridos e muitos presos.
As conseqüências chocaram o mundo: depois de um julgamento sumário, várias lideranças foram condenados a prisão perpétua e oito deles, à morte na forca. Aos poucos, porém, vários Estados norte-americanos começaram a estabelecer jornadas de trabalho menores, de dez e até de oito horas.

A data vira uma instituição

Dois anos depois, em 1888, a AFL marcava para o dia 1º de maio manifestações de protestos e reivindicações por uma jornada de trabalho de oito horas.
Em 1890, o 1º de maio foi comemorado com manifestações em várias cidades européias e norte-americanas, organizadas por sindicatos, partidos e associações de trabalhadores. Nesse mesmo ano, a Segunda Internacional, associação mundial de trabalhadores socialistas, aprovou em seu congresso a fixação do 1º de maio como Dia do Trabalhador: "Festa dos trabalhadores em todos os países, durante a qual o proletariado deve manifestar os objetivos comuns de suas reivindicações, bem como a sua solidariedade", declarava o documento daquele congresso.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Texto Complementar - Terceiros anos - Deuzuíta - 2011

FILOSOFIA – REFLETINDO FILOSOFICAMENTE SOBRE A CIÊNCIA
A ciência tem um grande prestígio no mundo de hoje. As grandes empresas principalmente as grandes multinacionais têm o seu laboratório próprio para desenvolver as suas pesquisas.
No capitalismo de hoje a ciência já é reconhecida como um força de produção, como elemento importante da acumulação e ampliação do capital. Está na base de toda esta tecnologia avançada do nosso mundo de hoje.
Por isso, a filosofia que não tem um objeto próprio, ou seja, tudo pode ser objeto da filosofia, mas que tem um modo de analisar, de investigar específico, não poderia deixar de lançar as suas perguntas sobre a ciência, sobre o conhecimento científico. O que é? Como é? Por que é?
MAS QUAL A IDÉIA QUE TEMOS DO CIENTISTA?
É aquele que, justamente, tem o conhecimento científico que lhe permite revelar a verdade sobre as coisas e por isso pode falar com autoridade e a nós compete aceitar e casualmente obedecer aos seus conselhos.
O cientista chega a se tornar um mito na nossa época. Todos estão atentos às palavras dos cientistas em todos os campos do saber: ouve-se o psicólogo, ouve-se o pedagogo, ouve-se o físico, ouve-se o químico, etc.
Acreditamos que o cientista chega à verdade graças a procedimentos rigorosos que inclui entre outras coisas o método, a observação dos fatos, a experiência.
Oras, tudo isto cai no âmbito do pensar filosófico.
Não é de competência dos cientistas saber o que é a ciência, o que distingue este conhecimento dos outros, o que é o método, o que é a verdade, qual a relação entre os fatos e o sujeito que conhece, o que é a chamada objetividade científica, porque o cientista é um mito. Estes podem até dedicar-se a esta reflexão mas a partir deste momento estão agindo como filósofos e não como cientistas.
VAMOS DAR ALGUNS EXEMPLOS DE QUESTIONAMENTOS FILOSÓFICOS NO ÂMBITO DA CIÊNCIA:
• Quanto á objetividade científica: existe realmente a chamada objetividade científica? Qual a relação entre o sujeito que conhece e o objeto a conhecer?
• Quanto á observação dos fatos: observo passivamente os fatos ou os vejo de acordo com os meus projetos? Será que não vejo as coisas de na medida em que elas corresponderem a determinado interesse? Os fatos acontecem independentemente de mim ou eu de certa forma crio os fatos?
• Quanto aos fatos em si: será que toda teoria científica se apoia em fatos? Se assim é por que há teorias diferentes no campo científico sobre uma mesma realidade? Os fatos falam por si? Será que é verdade que contra fatos não há argumento?
• Existe a neutralidade no conhecimento científico ou ele está marcado por relações políticas? Quais os interesses políticos que perpassam pelo conhecimento científico?
• Quanto ao fato de o cientista ter virado um mito na nossa época: Isto não é perigoso? Rubem Alves, consciente deste perigo, afirma: "Se existe uma classe especializada em pensar de maneira correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam."(Op. Cit. Pág. 11)
Estes questionamentos filosóficos nos revelam o quanto é importante a reflexão filosófica sobre a ciência pois ela nos ajuda a lutar contra o dogmatismo. E nós sabemos, a aceitação do dogmatismo na história da humanidade sempre colaborou para as guerras, para o ódio entre os homens, para reforçar ideologias perniciosas para a humanidade como o nazismo.
Mas, se há o perigo do dogmatismo por parte da ciência, a reflexão filosófica sobre ela nos ajuda a entender o seu papel positivo no progresso da humanidade.
A ciência nos revela que o homem pode entender e usar racionalmente (isto é, sem destruir) a natureza que o rodeia com o objetivo de maior liberdade humana e maior justiça social.
A ciência revela o homem como criador.
No caso do nosso país. Um maior investimento em pesquisa científica direcionada pelas nossas carências, seria extremamente positivo possibilitando uma elevação do seu desenvolvimento.
Infelizmente isto não acontece. Mais do que nunca estamos subordinados aos resultados da ciência que vem de fora. Esta subordinação está mesclada com a crença na superioridade intelectual dos cientistas estrangeiros. Achamos que eles são melhores do que nós.
Oras, a reflexão que propomos fazer quer revelar que todos nós, inclusive nós brasileiros, podemos ser cientistas capazes. Capazes de descobrir, de desenvolver pesquisas de acordo com a nossa realidade, que façam o Brasil sair rapidamente desta situação de carência social e econômica.
1. O senso comum e o conhecimento científico
Para sabermos o que é ciência, o que é conhecimento científico, precisamos distingui-los do chamado senso comum.
Iniciamos com as perguntas abaixo:
• Como duvidar que o sol seja menor do que a Terra se, todo dia, vemos um pequeno círculo de cor vermelha percorrendo o céu?
• Como duvidar que a terra seja imóvel se diariamente vemos o sol nascer, percorrer o céu e se pôr?
• Cada espécie de animal não surgiu tal como o conhecemos? Como imaginar um peixe tornar-se réptil ou um pássaro? A Bíblia não nos ensina que Deus criou em um único dia todos os animais?
Certezas como esta estão presentes na nossa vida e expressam o que nós chamamos de "senso comum".
Porém a astronomia nos revela que o sol é muitas vezes maior do que a Terra e que é a Terra que se move em torno dele.
Já a biologia nos ensina que as espécies de animais se formaram a partir de modificações de microorganismos extremamente simples e isto ao longo de milhões de anos.
Você, com certeza, já deve ter ouvido alguém dizer: "Dize-me com que andas que eu te direi quem és"; ou: "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando".
Esses dois exemplos nos mostram com o senso comum se manifesta através dos ditos populares, das crenças do povo. É um verdadeiro receituário para o homem resolver os seus problemas da vida diária.
É um saber não-sistematizado mas muito útil para guiar o homem na sua vida cotidiana.
É obtido geralmente pelas observações realizadas pelos sentidos. A bela letra desta música abaixo, de Ivan Lins e Vitor Martins, deixa isto claro :
Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo foi concebido

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo me deu certeza

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah! Eu usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo...

(Ivan Lins e Vitor Martins. In: Lins, Ivan. Daquilo que eu sei. Rio de Janeiro: Polygram/Philips,1981)
Há, pois, uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas e o conhecimento científico.
Diríamos que o senso comum não se caracteriza pela investigação, pelo questionamento, ao contrário da ciência. Fica no imediato das coisas, caracteriza-se pela subjetividade. É ditado pelas circunstâncias. É subjetivo, isto é, permeado pelas opiniões, emoções e valores de quem o produz: "Quem ama o fio, bonito lhe parece" e "Nossa amiga que rouba é cleptomaníaca; o trombadinha é ladrão e marginal!"
JÁ O CONHECIMENTO CIENTÍFICO:
• desconfia de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica.
• Onde o senso comum vê muitas vezes fatos e acontecimentos, o conhecimento científico vê problemas e obstáculos.
• Ele busca leis gerais para os fenômenos Ex.: a queda dos corpos é explicada pela lei da gravidade. Não acredita em milagres mas acredita na regularidade, constância, freqüência dos fenômenos.
• É generalizador, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, sob as mesmas medidas. Ex.: a química nos revela que a enorme variedade de corpos se reduz a um número limitado de corpos simples que se combinam de modos variados.
• Aspira à objetividade enquanto o senso comum se caracteriza pela subjetividade.
• Dispõe de uma linguagem rigorosa cujos conceitos são definidos de modo a evitar qualquer ambigüidade.
• É quantitativo: busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Por isto, a matemática se constitui em instrumento importante de várias ciências.
• Tem método rigoroso para a observação , experimentação e verificação dos fatos.
• Diferentemente do Senso Comum que muitas vezes é marcado pelo sentimento, o conhecimento científico se pretende racional.
Mas apesar destas diferenças é uma verdade que no senso comum há elementos do conhecimento científico.
Vamos dar alguns exemplos:
1. Você está guiando um automóvel e de repente ele para.
Não há possibilidade de chamar o mecânico ou outra pessoa para lhe ajudar. O que você fará?
• Descreva o seu raciocínio em uma folha de papel.
2. Evans-Pritchard, um antropólogo, estudou profundamente a crença de um grupo africano na feitiçaria. Assim ele descreve uma situação do cotidiano deste grupo:
"A princípio achei estranho viver entre os Azande e ouvir suas ingênuas explicações de infortúnios que, para nós, têm causas evidentes. Depois de certo tempo aprendi a lógica do seu pensamento e passei a aplicar noções de feitiçaria de forma tão espontânea quanto eles mesmos, nas situações em que o conceito era relevante. Um menino bateu o pé num pequeno toco de madeira que estava no seu caminho – coisa que acontece freqüentemente na África – e a ferida doía e incomodava. O corte era no dedão e era impossível mantê-lo limpo. Inflamou. Ele afirmou que bateu o dedo no toco por causa da feitiçaria. Como era meu hábito argumentar com os Azande e criticar suas declarações, foi o que fiz. Disse ao garoto que ele batera o pé no toco de madeira porque ele havia sido descuidado, e que o toco não havia sido colocado no caminho por feitiçaria, pois ele ali crescera naturalmente. Ele concordou que a feitiçaria não era responsável pelo fato de o toco estar no seu caminho, mas acrescentou que ele tinha os seus olhos bem abertos para evitar tocos – como, na verdade, os Azande fazem cuidadosamente – e que se ele não tivesse sido enfeitiçado ele teria visto o toco. Como argumento final para comprovar o seu ponto de vista ele acrescentou que cortes não demoram dias e dias para cicatrizar, mas que, ao contrário, cicatrizam rapidamente, pois esta é a natureza dos cortes. Por que, então, sua ferida havia inflamado e permanecido aberta, se não houvesse feitiçaria atrás dela?" (E. Evans Pritchard. Witchcraft, Oracles and Magic among the Azande. P. 64-67 – citado por Alves, Rubem. In: Filosofia da Ciência – Introdução ao Jogo e suas Regras, pág. 17)
• Qual a sua avaliação sobre este relato?
3. Coloco à sua frente várias peças de um quebra-cabeças, vamos supor que sejam mais de 1000 peças. Você terá que armá-lo. Não lhe é dado o modelo.
• Como você realizaria esta tarefa?

Ética deontológica e Ética teleológica

A ÉTICA DEONTOLÓGICA, defendida por Kant, valoriza a intenção da acção, de acordo com o dever, independentemente das consequências.

Deontologia significa “teoria do dever” ou “estudo do que convém”, em termos de acção. Agir por dever e em função de uma boa intenção são os princípios que determinam a boa acção. Agir bem implica uma boa intenção e uma boa vontade. O que é que isto quer dizer? A acção é boa se a intenção (razão ou motivo) for boa e se ela for pensada como boa vontade, ou seja, se for universal. Será universal se o que decidirmos for bom para nós próprios e para os outros (todos). Se não for uma acção egoísta ou só pensada em função de mim próprio terá uma dimensão ética, de maneira que, como diz KANT: “age de tal maneira que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro sempre como um fim e nunca simplesmente como um meio”. Por outras palavras, devemos tratar os outros como nos tratamos a nós próprios; assim se compreende a dimensão universal dos nossos actos, defendida por KANT. Por isso se diz que a ética de KANT é uma Ética Formal: não indica normas concretas de conduta, mas dá indicações gerais de como devemos agir com os outros. Não diz como em concreto devemos fazer para tratar os outros como “fins em si”, do tipo, como fazer para a velhinha passar a estrada, mas, em geral, sugere posturas universais aplicáveis a todas as situações (devemos tratar os outros como pessoas que têm valor por si próprias e que nunca devemos usar para nosso benefício).



A ÉTICA TELEOLÓGICA, defendida por autores com ARISTÓTELES é uma Ética consequencialista. Isto significa que a boa acção se deve medir pelas consequências. Ou seja, o fim da acção é o que determina todo o agir. E o fim último e mais importante é a felicidade. Todos os homens se devem reger por esta finalidade.

Teleologia significa o “estudo do fim”; aliás, “teleos” significa fim, o fim da acção. Em concreto, numa acção concreta, o mais importante não é saber se a intenção é boa, mas sim se teve boas consequências. Por isso se diz que é uma Ética do Concreto, que diria com se deve atingir a felicidade e com se deveria ajudar a velhinha a passar a estrada.

Para ARISTÓTELES, o ser humano deve procurar o fim adequado à sua natureza (Humana) e esse fim é a virtude e a felicidade. Nos actos humanos devemos procurar agir em equilíbrio de maneira a não prejudicar os outros. Um acto virtuoso é um acto equilibrado que não peca por defeito nem por excesso. Assim, a coragem excessiva pode levar à morte e a cobardia pode resultar da mesma forma; neste caso a ponderação da acção com vista ao fim que se deseja é a melhor das acções, sendo o meio-termo a melhor solução. Em Ética e segundo este autor, no meio é que está a virtude.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Texto Complementar 2 - Para os alunos dos primeiros Anos - Escola Deuzuíta

E.E.E.M Professora Deuzuíta
Texto Complementar
Disciplina: Filosofia
Professor: Sérgio Ricardo

a) Leia o texto todo e procure entendê-lo antes de responder qualquer pergunta.
c) Se alguma frase ou idéia não ficou clara, releia o texto.
d) Só então procure responder ou refletir em cima do texto.

A FÁBULA DA ÁGUIA E DA GALINHA
Esta é uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey, nos inícios deste século, quando se davam os embates pela descolonização. Oxalá nos faça pensar sempre a respeito.
"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.
- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga:
- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!
- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando ela abriu suas potentes asas.
Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.
Voou. E nunca mais retornou."
Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. E ainda até pensamos
que somos efetivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as asas e voar. Voar como as águias. E jamais se contentar com os grãos que jogam aos pés para ciscar.”
Vamos Filosofar???
1 – Em sua opinião, lendo esse texto, o que corresponde a verdade dos fatos apresentados? Justifique.
2 – O texto fala da superação que está na raiz da codição humana. Localize uma passagem que justifique essa verdade ou mentira e explique-a a luz da sua realidade social.
3 - Você concorda com os argumentos expostos no presente texto? Justifique sua resposta.
4 - O que o texto critica? E qual a principal razão que o texto se vale para fazer essa crítica?
5 – Elabore uma apreciação crítica sobre o texto, refutando ou concordando com o mesmo.
6 – Segundo o autor, dentro do tema enfocado, qual a questão central ?
7 – A luz do texto; Que compromisso precisamos assumir no ambiente em que vivemos ou atuamos para mudar esta realidade?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Texto Complementar - Para os Alunos dos PRIMEIROS ANOS - 2011 ESCOLA DEUZUÍTA

E.E.E.M Professora Deuzuíta
Texto Complementar
Disciplina: Filosofia
Professor: Sérgio Ricardo

a) Leia o texto todo e procure entendê-lo antes de responder qualquer pergunta.
c) Se alguma frase ou idéia não ficou clara, releia o texto.
d) Só então procure responder ou refletir em cima do texto.
A Filosofia Grega

Os gregos deram contribuições importantíssimas à cultura ocidental, com a criação do teatro (comédia e tragédia), na Matemática, História, Medicina e Artes Plásticas. Todas estas realizações, porém, foram orientadas pela Filosofia.
A Filosofia, que significa amor à sabedoria, nasceu na Grécia Antiga. Alguns pensadores, a partir do século VI a.C., com esforço pessoal, intelectual e intuitivo chegaram a conclusões sobre a natureza humana e sobre o universo, que permanecem até hoje.
A filosofia surgiu no período Arcaico com a Escola de Mileto, da qual destacaram-se Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Na concepção dessa escola, tudo na natureza descendia de um elemento básico (água, ar ou matéria).
Tales de Mileto e Pitágoras foram filósofos matemáticos, seus teoremas são utilizados até hoje.
No século V a.C., surgiram os sofistas, estes se dedicavam à crítica às tradições do Estado, à religião, aos privilégios, e eram defensores da democracia.
Esses pensadores tinham no homem o alvo de suas preocupações, recriminando os que simplesmente especulavam sobre o universo. Dizia Protágoras, "o homem é a medida de todas as coisas". Os sofistas não acreditavam em verdades absolutas, em sua opinião, havia visões diferentes sobre o mundo e as coisas.

A Escola Socrática
No final do século V a.C., filosofia e ciência começaram a se separar, e a filosofia passou a ocupar-se, principalmente, do homem e da ética humana. Surgiu a Escola Socrática, inspirada no pensamento de Sócrates.
Sócrates: educador, mais preocupado em conhecer o indivíduo do que os segredos do Universo. Criador da célebre frase: "só sei que nada sei".
Acreditava que o aprimoramento humano viria com a educação, baseada no uso crítico da razão.
Dizendo a verdade e tornando público o que pensava, foi acusado de corromper a juventude e renegar os deuses. Foi condenado a beber cicuta (veneno mortal).
Platão: discípulo de Sócrates, também se preocupou com a formação moral do indivíduo. Pregava que a moral individual deveria ser acompanhada de reforma na sociedade. Afirmava existir um mundo superior das idéias, que seria perfeito.
Escreveu várias obras, destacando-se a República, na qual explicava as regras para um Estado perfeito. Era contrário à democracia, pois, segundo ele, o homem comum era despreparado para o governo e incapaz de tomar decisões políticas inteligentes.
Aristóteles: principal discípulo de Platão, é considerado o filósofo grego que mais influenciou o Ocidente. Deixou trabalhos preciosos nas áreas da Física, Biologia, Astronomia e Política.
No plano social, Aristóteles defendia o escravismo, afirmando que alguns indivíduos nasceram para ser escravos e outros não.
Questões para aprofundar o texto:
1 – Em sua opinião, lendo esse texto, o que corresponde à verdade dos fatos apresentados?
2 - Você concorda com os argumentos expostos no presente texto? Justifique sua resposta.
3 - O que o texto critica? E qual a principal razão que o texto se vale para fazer essa crítica?
4 – Elabore uma apreciação crítica sobre o texto, refutando ou concordando com o mesmo.

terça-feira, 1 de março de 2011

A Importância da Mulher na Sociedade



Enfrentando diversas discriminações e adaptações em relação aos “afazeres puramente femininos”, como cuidar de casa e da família, a mulher conseguiu superar suas dificuldades e ainda administrar seu tempo a favor de suas atividades, para que as questões familiares não entrem em conflito com questões profissionais e sociais. A mulher ainda é alvo de grande discriminação por aqueles que ainda acreditam que “lugar de mulher é no fogão” e por isso enfrenta o grande desafio de mostrar que apesar de frágil é ainda forte, ousada e firme na tomada de decisões, quando necessário.

A mulher tem marcado as últimas décadas mostrando que competência no trabalho também é um grande marco feminino. Apesar de ser taxada como sexo frágil, a mulher tem se mostrado forte o bastante para encarar os desafios propostos pelo mercado de trabalho com convicção e disposição. A fragilidade da mulher, ou melhor, a sensibilidade da mulher tem grande colaboração nas influências humanas que se tenta propagar na atualidade, pois, como é sabido, o mundo passa por transformações rápidas e desastrosas que precisam de mudanças imediatas. A mulher consegue transmitir a importante e dura tarefa de mudar hábitos com a clareza e a delicadeza necessária para despertar o envolvimento de cada indivíduo e a importância da mudança de cada um.

O avanço feminino frente à política e economia ainda mostra a força da mulher em perceber e apontar os problemas tendo sempre boas formas de resolvê-los assim como os indivíduos do sexo masculino, o que evidencia o erro de descriminar e diminuir o sexo feminino privando-o a apenas poucas tarefas (domésticas).

A realidade do crescimento do espaço feminino tem sido percebida pela participação da mulher em diferentes áreas da sociedade que lhe conferem direitos sociais, políticos e econômicos, assim como os indivíduos do sexo oposto.

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Todos sabem que o preconceito é um marco presente na vida da humanidade e a mulher não ficou de fora, em razão dele sofreu grandes perdas.

Ao longo da história, as mulheres estiveram sempre subjugadas às vontades dos homens, a trabalhar como serviçais, sem receber nada pelo seu trabalho ou então ganhavam um salário injusto, que não dava para sustentar sua família.

Em razão desses e tantos outros modos de discriminação contra a mulher, estas se uniram para buscar maior respeito a seus direitos, ao seu trabalho e à sua vida.

A discriminação era tão grande e séria que chegou ao ponto de operárias de uma fábrica têxtil serem queimadas vivas, presas à fábrica em que trabalhavam (em Nova Iorque) após uma manifestação onde reivindicavam melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária de 16 para 10 horas diárias, salários iguais aos dos homens – estes chegavam a ganhar três vezes mais no exercício da mesma função.

Porém, em 8 de março de 1910, aconteceu na Dinamarca uma conferência internacional feminina, onde se discutiram os assuntos de interesse das mulheres, além de decidirem que a data seria uma homenagem àquelas mortas carbonizadas.

No governo do presidente Getúlio Vargas as coisas no Brasil tomaram outro rumo. Com a reforma da constituição, acontecida em 1932, as mulheres brasileiras ganharam os mesmos direitos trabalhistas que os homens, além de conquistarem o direito ao voto e a cargos políticos do executivo e do legislativo.

Ainda em nosso país, há poucos anos, foi aprovada a Lei Maria da Penha, como resultado da grande luta pelos direitos da mulher, garantindo bons tratos dentro de casa, para que não sejam mais espancadas por seus companheiros ou que sirvam como escravas sexuais dos mesmos.

Mas a mulher não desiste de lutar pelo seu crescimento, o dia 8 de março não é apenas marcado como uma data comemorativa, mas um dia para se firmarem discussões que visem à diminuição do preconceito, onde são discutidos assuntos que tratam da importância do papel da mulher diante da sociedade, trazendo sua importância para uma vida mais justa em todo o mundo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meus Queridos e Futuros Alunos

Meus queridos futuros alunos, sejam-vindos a mais um ano letivo, que possamos estabelecer laços de amizade, construir conhecimento e compartilhar experiências. Contem comigo!!!


NEM TUDO É FÁCIL – Cecília Meireles
Nem tudo é fácil é difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão?
Mas quem disse que é fácil ser perdoado? Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga... É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos, mas também tornemos todos esses desejos, realidade!!!