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sábado, 11 de dezembro de 2010

Aos Amigos, Alunos, parceiros e a todos que nos visitam...



Neste Natal escolhi um poema de Mahatma Ghandi que trata de um sentimento necessário para a construção da paz e de mundo fraterno que desejo para todos nós.

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive à sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.
Mahatma Gandhi

Quero aproveitar a ocasião para agradecer.

Desejo também a todos um ano novo de muito amor, saúde e grandes realizações.

Recuperação para os alunos da Escola Deuzuíta - 2010 -primeiros anos matutino, vespertino e noturno - atividade 02




A partir da leitura e análise da tese a seguir: "O conhecimento da própria ignorância não é a conclusão final do filosofar, mas o seu momento inicial e preparatório." de sua opinião pessoal sobre as afirmações contidas na mesma em no mínimo 15 linhas.

Atividade de recuperação para os alunos da Escola Deuzuíta - 2010 -segundos anos matutino, vespertino e noturno - atividade 02

A partir da leitura e análise do texto, de sua opinião pessoal sobre as afirmações contidas no referido texto.

A ética se dá na relação com o outro. Para determinar o bem que caracteriza a atividade própria dos humanos Aristóteles analisa as distintas funções do composto humano. A primeira delas é a vida. Mas a vida é comum aos homens, aos animais e as plantas. A segunda função é sentir. Mas sentir é comum aos humanos e aos animais. A terceira função é a razão. E esta é que distingue os seres humanos de todos os viventes inferiores. Portanto, a razão é a principal característica do ser humano. E sua principal atividade deve consistir em viver conforme a razão. A razão deve dirigir e regular todos os atos humanos. E nisso consiste essencialmente a vida virtuosa. E, para o filósofo, o fim último de uma vida virtuosa é ser feliz. Portanto, a felicidade tem que ser o correto desempenho do que lhes é próprio: o uso correto da razão.

Opinião Pessoal:

Recuperação para os alunos da escola Deuzuita - terceiros anos - 2010 - atividade 02

A partir da leitura e análise do texto de Paulo Coelho, do livro Maktub, de sua opinião pessoal sobre as afirmações contidas no referido texto.

“Somos seres preocupados em agir, fazer, resolver, providenciar. (...) Não há nada de errado nisto – afinal de contas, é assim que construímos e modificamos o mundo. Mas faz parte da Vida o ato de adoração. Parar de vez em quando, sair de si mesmo, permanecer em silêncio diante do universo. Ajoelhar-se com o corpo e a alma. Sem pedir, sem pensar, sem mesmo agradecer por nada. Apenas viver o amor calado que nos envolve (...)”.
“Não adianta pedir explicações sobre Deus; você pode escutar palavras muito bonitas, mas, no fundo, são palavras vazias (...). Ninguém vai conseguir provar que Deus existe, ou que não existe. Certas coisas na vida foram feitas para serem experimentadas – nunca explicadas. O Amor é uma dessas coisas. Deus – que é Amor – também o é. (...) Deus nunca vai entrar por sua cabeça – a porta que ele usa é o seu coração.”

Opinião Pessoal:

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Recuperação para os alunos da escola Deuzuita - terceiros anos - 2010

Estética: arte e Filosofia.
A Estética Filosófica


A estética é um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionalmente ligadas à arte, como o belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artísticas.
Do ponto de vista estritamente filosófico, a estética estuda racionalmente o belo e o sentimento que este desperta nos homens. Dessa forma, surge o uso corrente, comum, de estética como sinônimo de beleza. E esse o sentido dos vários institutos de estética: institutos de beleza que podem abranger do salão de cabeleireiro à academia de ginástica.
A palavra estética vem do grego aisthesis e significa "faculdade de sentir", "compreensão pelos sentidos", "percepção totalizante". Assim, retomando o que foi exposto no capítulo anterior, a obra de arte, sendo, em primeiro lugar, individual, concreta e sensível, oferece-se aos nossos sentidos; em segundo lugar, sendo uma interpretação simbólica do mundo, sendo uma atribuição de sentido ao real e uma forma de organização que transforma o vivido em objeto de conhecimento, proporciona a compreensão pelos sentidos; ao se dirigir, enquanto conhecimento intuitivo, à nossa imaginação e ao sentimento (não à razão lógica), toma-se em objeto estético por excelência.
O BELO
Vejamos, agora, as questões relativas à beleza e à feiúra. Será que podemos definir claramente o que é a beleza, ou será que esse é um conceito relativo, que vai depender da época, do país, da pessoa, enfim? Em outros termos, a beleza é um valor objetivo, que pertence ao objeto e pode ser medido, ou subjetivo, que pertence ao sujeito e que, portanto, poderá mudar de indivíduo para indivíduo?
As respostas a essas perguntas variaram durante o decorrer da historia. De um lado, dentro de uma tradição iniciada com Platão (séc. IV a.C.), na Grécia, há os filósofos que defendem a existência do "belo em si", de uma essência ideal, objetiva, independente das obras individuais, para as quais serve de modelo e de critério de julgamento. Existiria, então, um ideal universal de beleza que seria o padrão a ser seguido. As qualidades que tornam um objeto belo estão no próprio objeto e independem do sujeito que as percebe.
Levando essa idéia a suas últimas conseqüências, poderíamos estabelecer regras para o fazer artístico, com base nesse ideal. E é exatamente isso que vão fazer as academias de arte, principalmente na França, onde são fundadas a partir do século XVII.
Defendendo o outro lado, temos os filósofos empiristas, como David Hume (séc. XVIII), que relativizam a beleza, reduzindo-a ao gosto de cada um. Aquilo que depende do gosto e da opinião pessoal não pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: "Gosto não se discute". O belo, dentro dessa perspectiva, não está mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito.
Kant, ainda no século XVIII, tentan-do resolver esse impasse entre objetividade e subjetividade, afirma que o belo é "aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente". Para de, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. Apesar de esse juízo ser subjetivo, ele não se reduz à individualidade de um único sujeito, uma vez que todos os homens têm as mesmas condições subjetivas da faculdade de julgar. É algo que pertence à condição humana, isto é, porque sou humano, tenho as mesmas condições subjetivas de fazer um juízo estético que meu vizinho ou o crítico de arte. O que o crítico de arte tem a mais é o seu conhecimento de história e a sensibilidade educada. Assim, o belo é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir um certo estado da nossa subjetividade, não havendo, portanto, uma idéia de belo nem regras para produzi-lo. Existem objetos belos que se tornam modelos exemplares e inimitáveis.
Hegel, no século seguinte, introduz o conceito de história. A beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. E essa mudança (chamada devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da visão de mundo presentes em determinada época do que de uma exigência interna do belo.
Hoje em dia, numa visão fenomeno-lógica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao sensível, ou seja, a existência de um sentido absolutamente inseparável do sensível. O objeto é belo porque realiza o seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, é um objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na experiência estética. Não existe mais a idéia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza.
O FEIO TAMBÉM É BELO ?
O problema do feio está contido nas colocações que são feitas sobre o belo. Por princípio, o feio não pode ser objeto da arte. No entanto, podemos distinguir, de imediato, dois modos de representação do feio: a representação do assunto "feio" e a forma de representação feia. No primeiro caso, embora o assunto "feio" tenha sido expulso do território artístico durante séculos (pelo menos desde a Antiguidade grega até a época medieva]), no século XIX ele é reabilitado. No momento em que a arte rompe com a idéia de ser "cópia do real" e passa a ser considerada criação autônoma que tem por função revelar as possibilidades do real, ela passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e com sua capacidade de falar ao sentimento. O problema do belo e do feio é deslocado do assunto para o modo de representação. E só haverá obras feias se forem malfeitas, isto é, se não corres-ponderem plenamente à sua proposta. Em outras palavras, quando houver uma obra feia, nesse último sentido, não haverá uma obra de arte.
O GOSTO
A questão do gosto não pode ser encarada como uma preferência arbitrária e imperiosa da nossa subjetividade. Quando o gosto é assim entendido, nosso julgamento estético decide o que preferimos em função do que somos. E não há margem para melhoria, aprendizado, educação da sensibilidade, para crescimento, enfim. Isso porque esse tipo de subjetividade refere-se mais a si mesma do que ao mundo dentro do qual ela se forma.
Se quisermos educar o nosso gosto frente a um objeto estético, a subjetividade precisa estar mais interessada em conhecer do que em preferir. Para isso, ela deve entregar-se às particularidades de cada objeto.
Nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É deixar que cada uma das obras vá formando o nosso gosto, modificando-o. Se nós nos limitarmos àquelas obras, sejam elas música, cinema, programas de televisão, quadros, esculturas, edifícios, que já conhecemos e sabemos que gostamos, jamais nosso gosto será ampliado. É a própria presença da obra de arte que forma o gosto: toma-nos disponíveis, faz-nos deixar de lado as particularidades da subjetividade para chegarmos ao universal.
Mikel Dufrenne, filósofo francês contemporâneo, explica esse processo de forma muito feliz, e por isso vamos citá-lo. Diz que a obra de arte "convida a subjetividade a se constituir como olhar puro, livre abertura para o objeto, e o conteúdo particular a se pôr a serviço da compreensão em lugar de ofuscá-la fazendo prevalecer as suas inclinações. À medida que o sujeito exerce a aptidão de se abrir, desenvolve a aptidão de compreender, de penetrar no mundo aberto pela obra. Gosto é, finalmente, comunicação com a obra para além de todo saber e de toda técnica. O poder de fazer justiça ao objeto estético éa via da universalidade do julgamento do gosto".
Assim, a educação do gosto se dá dentro da experiência estética, que é a experiência da presença tanto do objeto estético como do sujeito que o percebe. Ela se dá no momento em que, em vez de impor os meus padrões à obra, deixo que essa mesma obra se mostre a partir de suas regras internas, de sua configuração única. Em outras palavras, no momento em que entro no mundo da obra, jogo o seu jogo de acordo com suas regras e vou deixando aparecer alguns de seus muitos sentidos.
Isso não quer dizer que vá ser sempre fácil. Precisamos começar com obras que nos estejam mais próximas, no sentido de serem mais fáceis de aceitar. E dar um passo de cada vez. O importante é não parar no meio do caminho, pois o universo da arte é muito rico e muito enriquecedor. Através dele, descobrimos o que o mundo pode ser e, também, o que nós podemos ser e conhecer. Vale a pena.
Concluindo tudo isso que acabamos de discutir: os conceitos de beleza e feiúra, os problemas do gosto e a recepção estética constituem o território desse ramo da filosofia denominado estética.
A HISTÓRIA
O belo e a beleza têm sido objecto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética enquanto disciplina filosófica, surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. O aparecimento desta reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas, onde era atribuída uma enorme importância aos espaços públicos, ao livre debate de ideias e aos poetas, arquitectos, dramaturgos e escultores era conferido um grande reconhecimento social.
Platão foi o primeiro a formular explicitamente a pergunta: O que é o Belo? O belo é identificado com o bem, com a verdade e a perfeição. A beleza existe em si, separada do mundo sensível.Uma coisa é mais ou menos bela conforme a sua participação na ideia suprema de beleza. Neste sentido criticou a arte que se limitava a "copiar" a natureza, o mundo sensível, afastando assim o homem da beleza que reside no mundo das ideias.
Aristóteles concebe a arte como uma criação especificamente humana. O belo não pode ser desligado do homem, está em nós. Separa todavia a beleza da arte. Muitas vezes a fealdade, o estranho ou o surpreendente converte-se no principal objectivo da criação artística. Aristóteles distingue dois tipos de artes:
a) as que possuem uma utilidade prática, isto é, completam o que falta na natureza.
b) As que imitam a natureza, mas também podem abordar o que é impossível, irracional, inverosímil.
O que confere a beleza uma obra é a sua proporção, simetria, ordem, isto é, uma justa medida.

Durante a Idade Média, o Cristianismo, difundiu uma nova concepção da beleza, tendo como fundamento a identificação de Deus com a beleza, o bem e a verdade.

Santo Agostinho concebeu a beleza como todo harmonioso, isto é, com unidade, número, igualdade, proporção e ordem. A beleza do mundo não é mais do que o reflexo da suprema beleza de Deus, onde tudo emana. A partir da beleza das coisas podemos chegar à beleza suprema (a Deus).

São Tomás de Aquino identificou a beleza com o Bem. As coisas belas possuem três características ou condições fundamentais: a) Integridade ou perfeição ( o inacabado ou fragmentário é feio); b) a proporção ou harmonia (a congruência das partes); c) a claridade ou luminosidade. Como em Santo Agostinho, a beleza perfeita identifica-se com Deus.

No Renascimento (séculos XV só em Itália, e XVI em toda a Europa), os artistas adquirem a dimensão de verdadeiros criadores. Os génios têm o poder de criar obras únicas, irrepetíveis. Começa a desenvolver-se uma concepção elitista da obra da obra de arte: a verdadeira arte é aquela que foi criada unicamente para o nosso deleite estético, e não possui qualquer utilidade. Entre as novas ideias estéticas que então se desenvolvem são de destacar as seguintes:
a) Difusão de concepções relativistas sobre a beleza. O belo deixa de ser visto como algo em si, para ser encarado como algo que varia de país para país, ou conforme o estatuto social dos indivíduos. Surge o conceito de "gosto".
b)Difusão de uma concepção misteriosa da beleza, ligada à simbologia das formas geométricas e aos números, inspirada no pitagorismo e neoplatonismo.
c) Difusão de uma interpretação normativa da estética aristotélica. Estabelecem-se regras e padrões fixos para a produção e a apreciação da arte.
Entre os séculos XVI e XVIII predominam as estéticas de inspiração aristotélica. Procura-se definir as regras para atingir a perfeição na arte. As academias que se difundem a partir do século XVII, velam pelo seu estudo e aplicação.
Na segunda metade do século XVIII, a sociedades europeia atravessa uma profunda convulsão. O começo a revolução industrial, a guerra da Independência Americana e a Revolução Francesa criaram um clima propício ao aparecimento de novas ideias. O principal movimento artístico deste período, foi o neoclássico que toma como fonte de inspiração a antiga Grécia e Roma. A arte neoclássica será utilizada de forma propagandistica durante a Revolução Francesa e no Império napoleónico. É neste contexto que surge I. Kant, o principal criador da estética contemporênea. Para Kant os nossos juízos estéticos tem um fundamento subjectivo, dado que não se podem apoiar em conceitos determinados. O critério de beleza que neles se exprimem é o do prazer desinteressado que suscita a nossa adesão. Apesar de subjectivo, o juízo estético, aspira à universalidade.
Ao longo do século XIX a arte atravessa profundas mudanças. O academismo é posto em causa; artistas como Courbet, Monet, Manet, Cézanne ou Van Gogh abrem uma ruptura com as suas normas e convenções, preparando desta maneira o terreno para a emergência da arte moderna. Surge então múltiplas correntes estéticas, sendo de destacar as seguintes:
a) A romântica que proclama um valor supremo para a arte (F. Schiller, Schlegel, Schelling, etc). Exalta o poder dos artistas, os quais através das suas obras revelam a forma suprema do espírito humano, o Absoluto.
b) A realista que defende o envolvimento da arte nos combates sociais. As obras de arte assumem muitas vezes, um conteúdo político manifesto.
O século XX foi a todos os níveis um século de rupturas. No domínio das práticas artísticas, ocorrem importantes mudanças no entendimento da própria arte, em resultado de uma multiplicidade de factores, nomeadamente:
a) A integração no domínio da arte de novas manifestações criativas. Umas já existiam mas estavam desvalorizadas, outras são relativamente recentes. Esta integração permitiu esbater as fronteiras entre a arte erudita e a arte para grandes massas. Entre as primeiras destacam-se as artes decorativas, a art naif, a arte dos povos primitivos actuais, o artesanato urbano e rural. Entre as segundas destacam-se a fotografia, o cinema, o design, a moda, a rádio, os programas televisivos, etc. Todas estas artes são hoje colocadas em pé de igualdade com as artes consagradas, como a pintura, escultura etc., denominadas também por "Belas Artes".
b)Os movimentos artísticos que desde finais do século XIX tem aparecido, em todo o mundo, tem revelado uma mesma atitude desconstrutiva em relação a todas as categorias estéticas. Todos os conceitos são contestados, e todas as fronteiras entre as artes são postas em causa. A arte foi des-sacralizada, perdeu a sua carga mítica e iniciática de que se revestiu em épocas anteriores, tornando-se frequentemente um mero produto de consumo. Quase tudo pode ser considerado como arte, basta para tanto que seja "consagrado" por um artista.
c) No domínio teórico aparecem inúmeras as teorias que defendem novos critérios para apreciação da arte. No panorama das teorias estéticas predominam as concepções relativistas. Podemos destacar três correntes fundamentais:
- As estéticas normativas concebem a beleza fundamentada em princípios inalteráveis. Entre elas sobressaí a estética fenomenológica de Edmund Husserl.
- As estéticas marxistas e neomarxistas marcadas por uma orientação nitidamente sociológica. O realismo continuou a ser a expressão que melhor se adequa às ideias defendidas por esta corrente. A arte nos países socialistas, por exemplo, cumpria através de imagens realistas uma importante função: antecipar a "realidade" da sociedade socialista, transformando-a numa utopia concreta.
- A estética informativa que deriva das teorias matemáticas da informação. Esta estética procura constituir um sistema de avaliação dos conteúdos inovadores presentes numa obra de arte.

Atividades:

1 - Elabore 15 questões e as responta a luz do texto acima.

2 - Faça uma dissertação a partir da seguinte citação: As coisas belas possuem três características ou condições fundamentais: a) Integridade ou perfeição ( o inacabado ou fragmentário é feio); b) a proporção ou harmonia (a congruência das partes); c) a claridade ou luminosidade. Como em Santo Agostinho, a beleza perfeita identifica-se com Deus.

Enviar as respostas para o email: srasmsc@gmail.com até domingo

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Atividade de recuperação para os alunos da Escola Deuzuíta - 2010 - primeiros anos matutino, vespertino e noturno

ATIVIDADE DE FILOSOFIA - 001 (para o 1º ano)
O QUE É FILOSOFIA?

O que pretendo sob o título de Filosofia, como fim e campo das minhas elaborações, sei-o, naturalmente. E contudo não o sei... Qual o pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?... Só os pensadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos, estão contentes com as suas definições. (GHusserl)
A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. (Merleau-Ponty)

A história de Morte de Sócrates, de Louis David.

Sócrates foi condenado à morte acusado de corromper a mocidade e de desconhecer os deuses da Cidade. Enquanto aguardava a execução da sentença, discutia com seus discípulos a respeito da imortalidade da alma, sua condenação, defesa e morte é contada no belo diálogo de Platão, Apologia de Sócrates. Na prisão, o mestre discutia com os discípulos questões sobre a imortalidade da alma, relatadas no Fédon, também de Platão.

1, Introdução

Lembremos a figura de Sócrates. Viveu em Atenas no século V a.C. Dizem que era um homem feio, mas, quando falava, era dono de estranho fascínio. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo na praça pública. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. colocava o interlocutor em tal situação que não havia saída senão reconhecer a própria ignorância. Com isso Sócrates conseguiu rancorosos inimigos. Mas também alguns discípulos.

O interessante e que na segunda parte do seu método", que se seguia à destruição da ilusão do conhecimento, nem sempre se chegava de fato a uma conclusão efetiva. Sabemos disso não pelo próprio Sócrates, que nunca escreveu, mas por seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte (ver o texto complementar II deste capítulo: "Ciência e missão de Sócrates").

Afinal, acusado de corromper a mocidade e desconhecer os deuses da Cidade, Sócrates foi condenado à morte.
A partir do que foi dito, podemos fazer algumas observações:
- Sócrates não está em seu "gabinete" contemplando "o próprio umbigo", e sim na praça pública.
- A relação estabelecida com as pessoas não é puramente intelectual nem alheia às emoções.
- Seu conhecimento não é livresco, mas vivo e em processo de se fazer; o conteúdo é a experiência cotidiana.
- Guia-se pelo princípio de que nada sabe e, desta perplexidade primeira, inicia a interrogação e o questionamento do que é familiar.
- Ao criticar o saber dogmático, não quer com isso dizer que ele próprio é detentor de um saber. Desperta as consciências adormecidas, mas não se considera um "farol" que ilumina; o caminho novo deve ser construído pela discussão, que é intersubjetiva, e pela busca criativa das soluções.
- Portanto, Sócrates é "subversivo" porque "desnorteia", perturba a "ordem" do conhecer e do fazer e, portanto, deve morrer.
Se fizermos um paralelo entre Sócrates e a própria filosofia, chegaremos à conclusão de que o lugar da filosofia é na praça pública, daí a sua vocação política.
Por ser alteradora da ordem, perturba, incomoda e é sempre "expulsa da cidade", mesmo quando as pessoas se riem do filósofo ou o consideram "inútil". Por via das dúvidas, o amordaçam, cortam o "mal" pela raiz e até retiram a filosofia dos cursos secundários... Mas há outras formas de "matar" a filosofia: quando a tornamos pensamento dogmático e discurso do poder, ou, ainda, quando cinicamente reabilitamos Sócrates morto, já que então se tornou inofensivo.

2. A atitude filosófica
Entre os antigos gregos predominava inicialmente a consciência mítica, cuja maior expressão se encontra nos poemas de Homero e Hesíodo, conforme já vimos no capítulo anterior.
Quando se dá a passagem da consciência mítica para a racional, aparecem os primeiros sábios, sophos, como se diz em grego. Um deles, chamado Pitágoras (séc.VI a.C.), que também era matemático, usou pela primeira vez a palavra filosofia (philossophia), que significa "amor à sabedoria". É bom observar que a própria etimologia mostra que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade.
O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas.
Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de onde deriva a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca. Para Kant filósofo alemão do século XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". Isto significa que a filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, no sentido de que questiona o saber instituido. Portanto, a teoria do filósofo não constituium saber abstrato, O próprio tecido do seu pensar é a trama dos acontecimentos, é o cotidiano. Por isso a filosofia se encontra no seio mesmo da história. No entanto, está mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa se afastar deles para melhor compreendê-los, retornando depois a fim de dar subsídios para as mudanças.

3. A filosofia e a ciência
No seu começo, a ciência estava ligada à filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre todos os setores da indagação humana. Nesse sentido, os filósofos Tales e Pitágoras eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e astronomia.
Na ordem do saber estipulada por Platão, o homem começa a conhecer pela forma imperfeita da opinião (doxa), depois passa ao grau mais avançado da ciência (episteme), para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico.
A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco a pouco, desse período até o século XX, aparecem as chamadas ciências particulares - física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia etc. -, delimitando um campo especifico de pesquisa.
Na verdade, o que estava ocorrendo era o nascimento da ciência, como a entendemos modernamente. Com a fragmentação do saber, cada ciência se ocupa de um objeto especifico: à física cabe investigar o movimento dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações substanciais, e assim por diante. Além da delimitação do objeto da ciência, se acrescenta o aperfeiçoamento do método científico, fundado sobretudo na experimentação e matematização.
O confronto dos resultados e a sua verificabilídade permitem uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade. As afirmações da ciência são chamadas juízos de realidade, já que de uma forma ou de outra pretendem mostrar como os fenômenos ocorrem, quais as suas relações e, conseqüentemente, como prevê-los.
A primeira questão que nos assalta é imaginar o que resta à filosofia, se, ao longo do tempo, foi "esvaziada" do seu conteúdo pelo aparecimento das ciências particulares, tornadas independentes. Ainda mais que, no século XX, até as questões referentes ao homem passam a reivindicar o estatuto de cientificidade, representado pela procura do método das ciências humanas.
Ora, a filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas que as ciências se especializam e observam "recortes" do real, enquanto a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está inserido.
Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso a filosofia tem uma função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir.
O trabalho da filosofia sob esse aspecto é importante e, sem negar o papel do especialista nem o valor da técnica que deriva desse saber, é preciso reconhecer que o saber especializado, sem a devida visão de conjunto, leva à exaltação do "discurso competente e às conseqüentes formas de dominação.
A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Então, por exemplo, se a física ou a química se denominam ciências e usam determinado método, não é da alçada do próprio físico ou do químico saber o que é ciência, o que distingue esse conhecimento de outros, o que é método, qual a sua validade, e assim por diante. Eles até podem dedicar-se a esses assuntos, mas, quando o fazem, passam a se colocar questões filosóficas. O mesmo acontece com o psicólogo ao usar, por exemplo, o conceito de homem livre.
Indagar sobre o que é a liberdade é fazer filosofia.
Mudando o enfoque: e se a questão for o comércio, ou a fábrica? A partir da análise das relações sociais resultantes da divisão do trabalho, podemos questionar sobre o conceito subjacente de homem que se encontra nas relações estabelecidas socialmente.
Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem, repetindo sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é, mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela. Filosofar é dar sentido à experiência.

4. O processo do filosofar

A filosofia de vida
Como seria o caminhar do filósofo? Na medida em que somos seres racionais e sensíveis, estamos sempre dando sentido às coisas. Ao "filosofar" espontâneo do homem comum, costumamos chamar filosofia de vida.
No Capítulo 5 (Ideologia), quando nos referimos à passagem do senso comum para o bom senso, identificamos esse último à filosofia de vida. Enquanto o senso comum é fragmentário, incoerente, preso a preconceitos e dogmático, o bom senso supõe a capacidade de organização que dá certa autonomia ao homem que analisa sua experiência de vida cotidiana.
Como veremos adiante, enquanto o homem comum faz sua filosofia de vida, o filósofo propriamente dito é um especialista. Mas o especialista filósofo é diferente dos outros especialistas (como o físico ou o matemático). Por exemplo, quando observamos o estudioso de trigonometria, podemos bem pensar que grande parte dos homens não precisa se ocupar com esse assunto. No entanto, o mesmo não acontece com o objeto de estudo do filósofo, cujo interesse se estende a qualquer homem.
Segundo Gramsci, "não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal". Isso significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós. Se o filósofo da educação investiga os fundamentos da pedagogia, o homem comum também se preocupa em escolher critérios - não importa que sejam pouco rigorosos - a fim de decidir sobre as medidas a serem tomadas na educação de seus filhos.
Estamos diante de diferentes filosofias de vida quando preferimos morar em casa e não em apartamento, quando deixamos o emprego bem pago por outro não tão bem remunerado, porém mais atraente, ou quando escolhemos o colégio onde estudar. Há valores que entram em jogo aí. Se escolho um "colégio fraco para passar de ano e ter tempo para passear", ou se, ao contrário, prefiro um "colégio forte para me preparar para o vestibular", ou, ainda dentro dessa última opção, "um bom colégio para ter um contato melhor com o mundo da cultura e abrir as possibilidades de autoconhecimento", é preciso reconhecer que existem critérios bem diferentes fundamentando tais decisões.
É por isso que consideramos tão importante a introdução do estudo de filosofia nas escolas de 2º grau. Não propriamente para preparar futuros prováveis filósofos especialistas, mas a fim de dar alguns subsídios para o aprimoramento da reflexão filosófica inerente a qualquer ser humano. Nesse sentido, o ensino da filosofia deveria se estender a todos os cursos e não só às classes de ciências humanas.

A filosofia propriamente dita
A filosofia propriamente dita tem condições de surgir no momento em que o pensar é posto em causa, tornando-se objeto de reflexão. Mas não qualquer reflexão. Como vimos, o homem comum, no cotidiano da vida, é levado a momentos de parada, a fim de retomar o significado de seus atos e pensamentos, e nessa hora é solicitado a refletir. Entretanto, ainda não é filosofia rigorosa o que ele faz.
Examinemos a palavra reflexão: quando vemos nossa imagem refletida no espelho, há um "desdobramento", pois estamos aqui e estamos lá; no reflexo da luz, ela vai até o espelho e retorna; reflectere, em latim, significa "fazer retroceder", "voltar atrás". Portanto, refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece.
É ainda Gramsci quem diz: "o filósofo profissional ou técnico não só "pensa" com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução."

Segundo o professor Dermeval Saviani, a reflexão filosófica é radical, rigorosa e de conjunto. Interpretaremos esses tópicos:
Radical: a palavra latina radix, radicis significa "raiz", e no sentido figurado, "fundamento, base". Portanto, a filosofia é radical não no sentido corriqueiro de ser inflexível (nesse caso seria a antifilosofia!), mas enquanto busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir. Por exemplo, a filosofia das ciências examina os pressupostos do saber científico, do mesmo modo que, diante da decisão de um vereador em aprovar determinado projeto, a filosofia política investiga as "raízes" (os princípios políticos) que orientam sua ação.
Rigorosa: enquanto a "filosofia de vida" não leva as conclusões até as últimas conseqüências e nem sempre é capaz de examinar os fundamentos delas, o filósofo deve dispor de um método claramente explicitado a fim de proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. Mesmo porque o filósofo não faz afirmações apenas, precisa justificá-las com argumentos. Para tanto usa de linguagem rigorosa, que evita as ambiguidades das expressões cotidianas e lhe permite discutir com outros filósofos a partir de conceitos claramente definidos. É por isso que o filósofo sempre "inventa conceitos", ou cria expressões novas (quanto fizeram isto os gregos)) ou altera e especifica o sentido de palavras usuais.
De conjunto: enquanto as ciências são particulares, porque abordam "recortes" da realidade e se distinguem de outras formas de conhecimento, e a ação humana se expressa nas mais variadas formas (técnica, magia, arte, política etc.), a filosofia é globalizante, porque examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, relacionando os diversos aspectos entre si. Nesse sentido, além de considerarmos que o objeto da filosofia é tudo (porque nada escapa a seu interesse), completamos que a filosofia visa ao todo, à totalidade. Daí a função de interdisciplinaridade da filosofia, estabelecendo o elo entre as diversas formas de saber e agir humanos.
A maneira pela qual se faz rigorosamente a reflexão filosófica varia conforme a orientação do filósofo e as tendências históricas decorrentes da situação vivida pelos homens em sua ação sobre o mundo.

Qual é a "utilidade" da filosofia?
Para responder à questão, precisamos saber primeiro o que entendemos por utilidade. Eis o primeiro impasse. Vivemos num mundo em que a visão das pessoas está marcada pela busca dos resultados imediatos do conhecimento. Então, é considerada importante a pesquisa do biólogo na busca a cura do câncer; ou o estudo de matemática no 2º grau porque "entra no vestibular"; e constantemente o estudante se pergunta: "Para que vou estudar isto, se não usarei na minha profissão?" Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente "inútil": não serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste ponto, ela é semelhante à arte. Se perguntarmos qual é a finalidade de uma obra de arte, veremos que ela tem um fim em si mesma e, nesse sentido, é "inútil".
Entretanto, não ter utilidade imediata não significa ser desnecessário. A filosofia é necessária.
Onde está a necessidade da filosofia?
Está no fato de que, por meio da reflexão (aquele desdobrar-se, lembra-se?), a filosofia permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no qual o "homem prático" se encontra mergulhado. É a filosofia que dá o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la.
Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência, o homem surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino.
O distanciamento é justamente o que provoca a aproximação maior do homem com a vida. Whitehead, lógico e matemático britânico contemporâneo, disse que "a função da razão é promover a arte da vida". A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação.
Por isso, o filosofar sempre se confronta com o poder, e sua investigação não fica alheia à ética e à política. É o que afirma o historiador da filosofia François Châtelet: "Desde que há Estado - da cidade grega às burocracias contemporâneas -, a idéia de verdade sempre se voltou, finalmente, para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles, como testemunha, por exemplo, a evolução do pensamento francês do século XVIII ao século XIX). Por conseguinte, a contribuição especifica da filosofia que se coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do ensino, da tradução, da pesquisa, da medicina, da família, da polícia, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la... "
A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios. Atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente à verdade (a-létheia, alethetiein, 'desnudar"), vemos que a verdade é pôr a nu aquilo que estava escondido, e aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder.
Finalmente, a filosofia exige coragem. Filosofar não é um exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo. é aceitar o desafio da mudança. Saber para transformar.
Lembremos que Sócrates foi aquele que enfrentou com coragem o desafio máximo da morte.

6. Filosofia: nem dogmatismo, nem ceticismo
Vimos, no Capítulo 3 (O que é conhecimento), que o ceticismo é uma posição filosófica que conclui pela impossibilidade do conhecimento, quer na forma moderada de suspensão provisória do juízo, quer na radical recusa em formular qualquer conclusão.
No outro extremo, existe o dogmatismo, segundo o qual o filósofo se considera de posse de certezas e de verdades absolutas e indubitáveis. Enquanto o dogmático se apega à certeza de uma doutrina, o cético conclui pela impossibilidade de toda certeza e, nesse sentido, considera inútil a busca que não leva a lugar nenhum.

Comparando as duas posições antagônicas, podemos perceber que elas têm em comum a visão imobilista do mundo: o dogmático atinge uma certeza e nela permanece; o cético anseia pela certeza e decide que ela é inalcançável.
Mas a filosofia é movimento, pois o mundo é movimento. A certeza e sua negação são apenas dois momentos (a tese e a antítese) que serão superados pela síntese, a qual, por sua vez, será nova tese, e assim por diante. A filosofia é a procura da verdade, não a sua posse, como disse Iaspers, filósofo alemão contemporâneo, concluindo que "fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta".

Exercícios

1. Qual é a relação inicial da ciência com a filosofia e quando se dá a separação delas? Quais são as principais diferenças entre ciência e filosofia?

2. O que é filosofia de vida? Como ela se distingue da filosofia do especialista?

3. O que caracteriza a reflexão filosófica propriamente dita?

4. O que significa dizer que a filosofia é inútil" mas necessária?

5. Qual é a relação da filosofia com o poder?

6. "Pois é impossível negar que a filosofia coxeia. Habita a história e a vida, mas quereria instalar-se no seu centro, naquele ponto em que são advento, sentido nascente. Sente-se mal no já feito. Sendo expressão, só se realiza renunciando a coincidir com aquilo que exprime e afastando-se dele para lhe captar o sentido. É a utopia de uma posse à distância." (Merleau-Ponty)

Explique o que Merleau-Ponty quer dizer com: "só se realiza renunciando a coincidir com aquilo que exprime".

Obs: enviar as respostas para o email: srasmsc@gmail.com

BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires (org.). Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1990.

Atividade de recuperação para alunos da escola Deuzuíta - segundos anos matutino e vespertino 2010 -

ÉTICA E POLÍTICA

1 - MAQUIAVEL: A POLÍTICA COMO ELA É
(Do livro: Maquiavel: a política como ela é, Maria Tereza Sadek, FTD, 1996)

1.1 Você sabe com quem está falando?
As cenas a seguir não têm um cenário fixo. Podem se passar no Brasil, nos Estados Unidos, na França, no Japão ou em qualquer outra parte. Também não têm ou não precisam ter um tempo previamente demarcado; podem ter ocorrido em 1930, 1950, 1980, 1990, ou ainda estar por acontecer. O que importa, independentemente do lugar ou do tempo, é que descrevem fatos familiares. A carapuça pode ser vestida por políticos existentes ou fictícios. Mas a máscara é, de toda forma, reconhecível. Ela personifica uma imagem bastante difundida da atividade política. A plausibilidade e freqüência com que se repte têm levado muitas pessoas a se afastar da vida pública e muitas outras a dizer que não têm interesse pela política, considerando esta atividade quase desprezível. Alguns, imersos numa visão realista, mas não menos influenciada pelo comportamento de tantos políticos, poderão chegar a sustentar: "ora, isso é a política!". Valem quaisquer meios apra obter ou apra permanecer no poder.

CENA 1
Véspera de eleições. Dois candidatos disputam voto a voto a preferência do eleitorado. Pesquisas de opinião indicam um empate técnico. De repente, uma notícia explode nos meios de comunicação: um dos concorrentes é acusado de ter forçado sua ex-companheira a fazer um aborto e de ter uma filha ilegítima. Esse político, visto até então como de reputação ilibada, perde votos. Sabe-se depois que a cena foi montada, que a mulher recebeu dinheiro para sustentar tais acusações.

CENA 2
A equipe governante perde apoio popular. A cada dia surgem novas acusações de verbas desviadas, a inflação cresce e o desemprego atinge altos índices. A oposição, ao contrário, cresce em prestígio. Quando tudo indicava que o grupo do governo vivia seus últimos dias, é revelado um plano de golpe, encabeçado pelos críticos do governo. Evoca-se, inclusive, a descoberta de documentos secretos, nos quais estariam traçadas ações para assassinar os principais membros do governo. Com essa justificativa, são tomadas várias medidas de exceção que reforçam o poder dos governantes: o Congresso é fechado e as próximas eleições são adiadas; lideranças de oposição são perseguidas e presas; a imprensa é censurada; intervém-se em sindicatos, substituindo-se as lideranças mais ativas; entidades estudantis são vigiadas, atividades político-partidárias são estritamente controladas. Tudo isso com o apoio da população, que passa a sustentar o governo e seus atos de força. Algum tempo depois, toda a maquinação é descoberta - o suposto golpe havia sido planejado no interior do próprio governo, com a intenção de garantir o apoio popular e de enfraquecer a oposição.

CENA 3
Vários políticos são focalizados, num jogo de flashes. Um, para conseguir obter apoio para suas propostas, passa a cortejar seus adversários e a menosprezar seus tradicionais amigos. Seus discursos e seu comportamento são irreconhecíveis se comparados com os do passado, quando iniciou sua carreira política.
Outro político, sem formação religiosa, mas sabedor de quanto os eleitores prezam práticas religiosas, passa a freqüentar missas e a comungar, dizendo-se fervoroso devoto da padroeira da cidade.
Um terceiro político abraça desconhecidos, distribui ambulâncias, manda telegramas parabenizando por aniversários, freqüenta festas populares. Na intimidade, longe dos refletores, é sabido seu desprezo e desconforto no contato com políticos do interior e com o povo.
Outro garante em seus discursos ser um defensor dos pobres e oprimidos e que sua honestidade habilita-o como o verdadeiro representante das causas populares. Entretanto, descobre-se que, desviando verbas destinadas à construção de escolas e hospitais, comprou fazendas, uma bela mansão, construiu poços em suas propriedades, adquiriu iates e aviões.

CENA 4
Uma convenção partidária é convocada com o objetivo de escolher o próximo candidato da agremiação ás eleições gerais. Um dos postulantes, para garantir a sua indicação, manda elaborar dossiês contra os concorrentes e impede a chegada de convencionais que votarão contra a sua indicação.

1.2 O importante é levar vantagem?
Desta vez as personagens são homens e mulheres em situações típicas do mundo do trabalho, do dia-a-dia ou da vida doméstica. A condição sexual pouco importa. Os papéis são intercambiáveis, podendo ser desempenhados por homens ou mulheres. O que conta é o comportamento. A época - passado, presente ou futuro - em que os fatos ocorrem também é irrelevante. As cenas podem ser ambientadas como preferir.

CENA 1
Uma pessoa, para conseguir uma alta posição em uma empresa, comporta-se de forma desleal em relação a seus colegas de trabalho. Desvia a correspondência de seu chefe imediato, altera propostas discutidas, revela segredos, levando-o a crer que tais atos devem-se à irresponsabilidade ou à fraqueza de caráter dos que o cercam.

CENA 2
Um homem, para conquistar a mulher de seu amigo, faz com que ela acredita que é traída, deixando, assim, o terreno livre para suas incursões amorosas.

CENA 3
Uma mulher, para conquistar o marido de sua amiga, faz com que ele acredite que é traído, deixando, assim, o caminho aberto para seduzi-lo.

CENA 4
Uma outra pessoa, para que os filhos permaneçam ao seu lado, monta uma série de artimanhas para afastá-los de situações que os levariam a abandoná-la.

CENA 5
Várias gangues controlam a distribuição de drogas na cidade. A luta entre elas provoca uma série de atos de violência. Membros são mortos, pairam ameaças no ar. Depois de uma longa seqüência de ataques, todos se sentem intranqüilos e a violência multiplica-se. Ciladas e armadilhas não poupam nem mesmo aqueles que nada têm a ver com o mundo do tráfico. Diante de tanto terror, o chefe de uma das gangues convida os principais participantes das demais apra um encontro em sua casa, onde deveriam fazer um pacto de respeito mútuo. Segundo a sua proposta, a cidade seria dividida em áreas, e cada um dos grupos teria o controle de determinadas zonas. O acordo parecia por um ponto final na violência, garantindo uma razoável parcela de poder para cada uma das gangues. Quando todos concordam com os termos da divisão e comemoram, o dono da casa faz um sinal e entram seus homens. Armados, num só golpe, liquidam todos os visitantes e com eles o suposto pacto de não-agressão mútua.
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Diante dessas cenas, poucos fugiram à indignação. Alguns, talvez mais calejados, concluiriam: "ora, essa é a vida!". Valem quaisquer meios quando se deseja ardentemente um determinado objetivo.
Esses procedimentos - retratados no primeiro e no segundo conjunto de cenas - são, no mínimo, pérfidos. Só um alto senso de realismo permitiria vê-los com naturalidade. Naturalidade que decorre muito mais do número de vezes em que são praticados do que de qualquer julgamento baseado em princípios. A artimanha, a falsidade, a astúcia, o ardil que caracterizam tais tos encontram no linguajar comum um termo que os sintetiza: maquiavélico.
Maquiavelismo e maquiavélico são termos que nasceram do nome de um florentino que viveu na segunda metade do século XV e primeiras décadas do XVI, Niccolò Machiavelli. Quem foi este homem e por que teve seu nome perpetuado através de práticas perversas?

RESPONDA A ESTAS PERGUNTAS

1. Entreviste pelo menos 3 pessoas, indagando o que entendem por maquiavelismo e peça que exemplifiquem esse tipo de comportamento. De posse das entrevistas, organize o material em função do tipo de resposta obtida, distinguindo as que se referem a comportamentos de políticos e as que dizem respeito a comportamentos do universo das relações privadas.
2. Como você se posiciona diante da idéia expressa na frase: "os fins justificam os meios"? Para se alcançar um determinado objetivo, todos os meios são válidos? E na política?
3. A política pode ser regida por valores distintos daqueles que regem a vida privada? Ou, ao contrário, os mesmos valores deveriam nortear os comportamentos dos homens quer quando eles estão fazendo política, quer quando estão em atividades típicas da vida privada?

Obs: Enviar as respostas por email: srasmsc@gmail.com

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Violência??? Paz e Atitude



Esclareço que não sou desfavorável a conselhos, simpósios, passeatas e debates contra a violência e a favor da paz. Mas, esses acontecimentos abordam apenas parte da problemática. A violência é o efeito de alguma causa que deve ser tratada com ações. A Paz se faz com atitude!

Na filosofia existe a lei de causalidade (causa e efeito). Espinoza (1632 – 1677) acena que se enfrentamos com seriedade o problema, compreenderemos com ele foi produzido, ou seja, qual a gênese da problemática (buscar a causa da violência)? O filósofo alemão Leibniz (1646 – 1716) disse que nada existe que não tenha uma causa, confirmando a tese de que a violência tem a sua causa... Qual ou quais?

Os antigos (gregos e romanos) e os medievais definiram a causa em quatro (material, formal, eficiente e final). Os modernos priorizaram duas: eficiente – ligação direta entre causa e efeito. A origem da violência esta intimamente ligada com os seus efeitos: e causa final – seres livres agem para uma finalidade. Qual o objetivo de conhecer as causas das violências? Senão apresentar soluções de paz.

Quais são as causas da violência? Seria a deseducação geral, desestruturadas familiar, sociedade apática e estado indiferente. Cada um definirá como queira.

Os efeitos são os reflexos da violência que percebemos cotidianamente, desde falta de educação de uma atendente de loja [...] ao crime hediondo.

Como agir contra a violência e a favor da paz? As ações devem ser simples.

Precisamos mudar a mentalidade a apregoar a cultura da paz. Não há fórmulas mágicas para Paz. Comece por você: trate melhor seu empregado, patrão, cliente; respeite as leis de trânsitos. Comece por você e não a cobrar atitude dos outros. Seja educado! E eduque ou reeduque seus filhos ou as crianças que você conhece – essa regra vale para todos. Não precisa dar as pessoas um tratado sobre ética de Aristóteles ou moral de Kant, não, não é isso! É necessário ensinar coisas simples – sobretudo a crianças. Ensinar a pedir, por favor, com licença, obrigado, desculpas e muitas outras palavras que abrem relações harmônicas e sadias. Concordo com o filósofo Pitágoras “Eduque as crianças e não precisará punir os homens”.

Nas escolas infelizmente, linguajar tais como: “Vai tomar naquele lugar”, tornou-se artigo de luxo, “Sua mãe é uma arrombada” é uma oração diária. Além de outras agressões verbais e físicas. Confesso que em todo o meu período de magistério nunca ouvi ou vi nenhuma professora ou professor ter semelhante comportamento ou usar esses verbetes. Esse comportamento vem de casa ou pior da rua! Mas, a questão não é achar culpados e sim soluções!

O que fazer com os problemas de violência que temos na sociedade? Esperar as crianças educadas crescerem!? Aqui esta o nó, que embaraça as relações sociais. Segundo Foucault: “Nós não somos frutos de teorias, somos frutos de práticas sociais adquiridas culturalmente”. A violência é gerada no meio da sociedade, que por sua vez não consegue administrar suas próprias mazelas e exclui as pessoas. Deve haver comprometimento de todos (governo e sociedade), para implantações de políticas públicas, projetos sociais e educacionais. E qualquer atitude que resgate a dignidade e cidadania, momentaneamente são as melhores soluções.

A melodia “Nós queremos paz”, diz: “Peço agora, paz! Esse grito eu não vou calar como não calo uma oração. Paz! Nós queremos paz! Quem deseja faz acontecer não fica esperando em vão”. (Compositores - Joana, Marcos Neto, Ronaldo Monteiro de Souza).

Findo esse citando parte da belíssima música interpretada por Joana e mencionada acima: “Eu não quero só sobreviver. Quero a plenitude do viver.”

A importância da consciência ética na construção da cidadania.

Rio Tietê


É difícil praticar a ética sem entrar em confronto com nossas ações humanas. A ética faz com que revejamos nossos desejos, nossas atitudes, nossos conceitos e ponderações. O homem está constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, numa espécie de “consciência moral”. Atualmente com todos esses acontecimentos dando mais ênfase no assunto mundial em evidencia que é o meio ambiente, percebemos o quanto a ética é essencial para melhores atitudes e soluções. Saber que estamos disponibilizando dos recursos naturais para nossa sobrevivência e não nos importamos com o futuro destes, não é um modelo de como praticar a ética. Almejar o que é bom para nós não implica em lesar a natureza.

Vejo uma complexidade na questão ambiental, há preocupação com o meio ambiente mesmo ou apenas estamos na moda do verde? É difícil não nos influenciarmos pela mídia e pelo marketing, mas se observarmos bem, não há muito, ou quase nada, de ética nesses influentes, apenas prescrições de consumo. A ética é importante neste contexto de educação e orientação ambiental, pois antes de consumirmos e usarmos os produtos que precisamos para nossa sobrevivência e até mesmo os supérfluos tem que ter uma “consciência moral” de que passaram por processos que causaram impacto ao meio ambiente e que também mal conduzidos depois de usados poderão prejudicar nosso planeta.

Como construir uma sociedade melhor sem termos a consciência que devemos ser cidadãos de bom senso e de raciocínio lógico? Pois estes cidadãos podem designar uma boa qualidade de vida, conseguem exercer uma ética socialmente harmônica com o meio em que vivem. A racionalidade permite um amplo recurso do que temos e do que podemos ter.

Ser cidadão é antes de tudo ter consciência de que estamos expostos a todos os tipos de valorização e desvalorização das atitudes que tomamos para nossa vida. Uma delas é não cuidar do nosso bem mais precioso, o meio ambiente, pois poderá implicar em problemas futuros para nossa qualidade de vida. Exercer a cidadania é cuidar, respeitar e conduzir da melhor forma o que é nosso. A ética é fundamental para que possamos enxergar com mais respeito a tudo que nos instiga a viver.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Como fichar um texto, artigo, livro, etc...

Seguem algumas dicas, que não pretendem ser deterministas, apenas indicar um caminho inicial.

1 - Antes de começar...

* O ideal, antes de fazer um fichamento qualquer, é "preparar o terreno" fazendo uma boa leitura inicial do material, para ter uma idéia do terreno em que se está pisando.
* Será um ótimo sinal se já surgirem daí aqueles "grandes achados" (idéias que nos soam como novas ou antigas idéias que reaparecem rejuvenescidas); anote-as, pois de outra forma se esquecerá delas e só perderá com isso.
* Da mesma forma, perguntas ou dúvidas que surgem durante ou depois da leitura são importantes; tente anotá-las, pois são um tesouro precioso para quem estuda. Cabe ao leitor decidir, exercitando o seu bom senso, se convém interromper a leitura por um breve momento para esclarecimento daquela dúvida, ou se a dúvida pode esperar até o final da leitura do texto. Esse costuma ser o caso, esperar, quando o entendimento do texto não é comprometido pela dúvida e quando aquela dúvida vai exigir um esforço maior de estudo. Em todo caso, seja como for, anote a dúvida.
* Procure enriquecer sua compreensão fazendo uma pesquisa sobre o texto em algum material de comentadores, busque nas enciclopédias ou mesmo na internet. Abra seus horizontes para ter uma visão melhor das conexões entre o que foi lido e o "mundo".
* FINALMENTE: releia o texto novamente e vá fazendo o fichamento enquanto relê.
* Partilhe, troque idéias! Um texto não é um bicho morto para ser dissecado. Dificilmente alguém que leu entendeu tudo que havia para entender, procure debater com quem viu algo diferente, de uma mesma fonte pode nascer bichos diferentes. Um bom texto é um bicho vivo, e grávido.

2 - Tipos de fichamento

Fichamento bibliográfico:
--- indicar com clareza o autor e o livro em questão
--- indicar se alguém importante já fez uma resenha sobre o livro
--- indicar o objetivo, tema central e a natureza do livro
--- passar todos os capítulos e indicar a sua idéia central

Fichamento temático:
--- escolha um tema central do livro
--- apresente um panorama do tema com recurso a outras fontes
--- indique os sentidos do tema na obra analisada

Fichamento de autor:
--- apresente dados bibliográficos do autor
--- apresente as principais obras do autor se for possível, (1) faça um breve comentário sobre cada uma delas, (2) mostre como se encaixam dentro da evolução do pensamento do autor, (3) mostre quais as questões chaves tratadas em cada obra, etc.
--- apresente um quadro geral da sua obra completa se for possível, (1) destaque as questões principais que o incomodavam, (2) enumere quais as suas maiores contribuições, (3) mostre aquilo que ficou faltando ou aberturas que geraram novas discussões depois.

3 - Tipos de atitude diante da leitura

Fechamento:
--- "eu já tenho uma posição definida, vou ler esse autor chato e esse texto ultrapassado só para dar uma olhada, duvido que vá aprender algo" E está certíssimo, eu também duvido que você vá aprender alguma coisa.

Reducionismo:
--- nega que toda moeda tem dois lados, faz uma leitura de forma submissa ou dominadora, concordando totalmente ou discordando completamente do autor. Revela uma dificuldade ou incapacidade de manter a identidade e de reconhecer a diferença. Uma posição tem sempre que absorver ou ser absorvida por outra. O autor tem sempre que ser um herói ou um vilão.

Estreitamento:
--- se prende ao texto escrito, não consegue se libertar dos sinais gráficos, não consegue estabelecer conexões, nem entender que leitura também se faz do mundo, da história, dos contextos sociais e individuais. Os textos parecem sempre comunicar coisas distantes, tudo cheira a mofo, coisas velhas e passadas, trivialidade, teorias abstratas sem sentido... É um sintoma grave: procure uma biblioteca urgente e marque uma consulta, peça uma receita de bons livros para curar essa anemia cultural.

Dialética e crítica mútua:
--- reconhece que a história muda, que uma mesma imagem não vale para todo caso, que tudo está em relação ciência-religião-filosofia-sociedade- arte-literatura; pretende manter a identidade própria mas também procura reconhecer as diferenças e dialogar com elas. É a atitude do verdadeiro filósofo.

4 - Como fichar

Não existe um modo único para fazer fichamentos, o modo pode variar bastante de acordo com a obra analisada, essa talvez seja a dificuldade principal em que esbarram aqueles que buscam um "roteiro esquemático".

Acho, contudo, que, ao invés de encarar isso como um problema, os interessados deveriam se sentir até aliviados. Os pontos chaves eu tentei enumerar acima, quanto a forma e o conteúdo, ficam a critério da criatividade e da capacidade de leitura e escrita de cada um.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Frases de Sócrates - Pausa para pensar II

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.

Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.

Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.

Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

O verdadeiro conhecimento vem de dentro.

O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu carácter.

Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem.

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.

O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele.

Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.

A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.

Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.

A vida sem ciência é uma espécie de morte.

Transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada.

Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e será sábio

Inteligente é aquele que sabe que não sabe nada.

Sócrates

Frases de Friedrich Nietzsche - Pausa para o pensar.

Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.

Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.

As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física.

Torna-te aquilo que és.

Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.

As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.

Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo.

É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.

O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele.

Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.


Friedrich Nietzsche

De onde vem o Mal?

Se, no princípio, era o bem, donde vem o mal?

Na herança religiosa do judaísmo, a fé cristã professa que a origem de tudo que é, o universo e todas as suas criaturas, advém de um só e mesmo criador, o único Deus. Fora dele, não há nenhum outro deus. Absolutamente, tudo provém de sua inescrutável criatividade e infinita bondade. Está inscrito, para sempre, no livro das orações, comum a ambas as comunidades de fé, o judaísmo e o cristianismo: Senhor, meu Deus, vós sois imensamente grande. De majestade e esplendor vos revestis... Quão variadas, Senhor, são as vossas obras. Todas, com sabedoria e bondade, as fizestes. Cheio está o universo das vossas riquezas (Sl 104). Mais ainda: Judaísmo e Cristianismo crêem e professam que tudo quanto Deus fez é bom (Gen 2), porque querido e originado de sua bondade.
Mas não é possível negar a vigência do mal. Historicamente, todos o experimentamos. Ora como suas vítimas, ora como seus feitores, ora em claros contornos e figurações, ora difusa e incognitamente. Às vezes, ele vem de fora, contra nós, envolvendo-nos em sua teia, ferindo-nos com sua malícia. Outras vezes, ele vem de dentro, do obscuro de nós mesmos, espalhando ao nosso redor seu veneno e sua maldade. Ás vezes o fazemos propositadamente. Outras vezes, involuntariamente, contra nossas próprias intenções (Rom 7,19-20).
O que é isto, perguntamos, então, às vezes entristecidos, às vezes perplexos, às vezes feridos, às vezes decepcionados conosco ou com aquele que nos fez o mal... o que é isto, afinal, que, contra nosso próprio desejo, contra nossa sensibilidade, contra o senso de humanidade, nos atrai para dentro de uma verdadeira ciranda de frieza, malevolência, agressões, violência e inumanidades?
As Escrituras Sagradas Judaicas e Cristãs não têm dúvida: O mal não tem origem em Deus. Nem tampouco nalgum outro princípio correlativo a Deus, sempiterno como ele, ou num princípio do mal, um concorrente do bem e da bondade. Originário é o bem e ele apenas.
Mas se, no princípio, era o bem, donde vem o mal? As mesmas Escrituras Sagradas insinuam uma resposta, já nas suas primeiras páginas (Gen 3). É a própria criatura (serpente / homem) que, ciente de sua pequenez e finitude (terra / rastejar), quer ser mais do que é, sim, quer ser como Deus (sereis como Deus). Um desejo aparentemente bom e virtuoso (fruto agradável aos olhos e ao paladar), mas a origem de todos os desacertos e males, pois sempre que o homem quer ser deus (senhor / onipotente / onisciente / princípio / a perfeição), ele transforma a sua própria vida, a vida de todos e do mundo num inferno.
Sob a aparência do bem, eis como entra no mundo e nos homens o mal. Uma insídia ardilosa que forja o bem e o promete, sem, porém, jamais cumprir sua promessa. Na verdade, uma grande e enganosa farsa, assim é o mal. E assim são os homens possuídos por ele: não demônios, mas enganados por sua própria natureza. Homens que, querendo ser grandes, estão dispostos às mais odiosas baixezas. Que, querendo ser perfeitos, são capazes das mais abomináveis mentiras. Que, querendo o mundo, perdem-se a si próprios. Que, por um punhado de moedas, prestam-se a trair não apenas a outros, mas a si próprios. Que, querendo tudo possuir, vendem-se a si mesmos abaixo de sua humanidade. Que, querendo valer mais do que já valem (bom), perdem até o que já são. Que querendo ser deuses, se transformam em pobres diabos, ou em caricaturas humanas, infelizes e perdidos do caminho.

(Frei Prudente Nery, grande teólogo brasileiro, faleceu em junho de 2009)

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China . Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.

Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: ' Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual - pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais...

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.

Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.
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Frei Betto é escritor

A última noite de Maria


No dia 1º de novembro de 1950, Papa Pio XII, após sondar a tradição da Igreja e ouvir todos os bispos católicos (1949), promulgou solenemente a “Assunção de Maria”. A Igreja verbalizava, assim, com clareza e em caráter definitivo, uma antiqüíssima convicção da fé cristã. Do Concílio de Calcedônia (451) ao Concílio Vaticano I (1869 - 1870), a crença de que Maria, por sua vida singular, estaria, já agora, na glória de Deus, foi professada por incontáveis cristãos.
Nós te louvamos, Senhor do universo. Pois, hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Ela é consolo e esperança para o teu povo ainda em caminho. Pois, nela, vemos o nosso futuro, canta o prefácio de sua festa. Pois esta é a nossa esperança: que, um dia, para além da morte e do mundo, seremos acolhidos por Deus, com tudo aquilo que compôs a nossa vida. Não apenas naquilo que fomos lá dentro de nós mesmos, em nossa interioridade (alma), mas também com tudo aquilo que, no âmbito de nossa vida, aprendemos a querer bem e que, por isso, passou a integrar a totalidade de nosso ser (corpo). Dentro e fora, o que fomos em nossos secretos sonhos (alma) e o que conseguimos ser em nossa realidade (corpo), o que construímos em nossa interioridade (alma) e o que partilhamos com os outros e recebemos do mundo (corpo).
Corpo, precisaríamos precisar melhor, é muito mais do que apenas este amontoado orgânico de células, a nossa carne. Ele é também o olhar, a destreza dos dedos, a generosidade das mãos, a palavra, o ouvir, o bailar, o drible, o saltar, o dobrar os joelhos, o suor, a lágrima, a luta, o afago que se dá e se recebe, o beijo, esta carícia dos corações.
Ainda que nos sintamos bem em nossa pele, nossa carne não é apenas o lugar do nosso ser, a visibilidade ou o sacramento de nosso mistério. Ela é também um limite e, em muitos casos, um terrível sofrimento. Nosso coração quer voar, mas a carne nos retém ali. A saudade nos convida para longe, mas, no cárcere de nossa carne, não podemos abraçar a pessoa amada. O espírito, lúcido ainda, quer realizar tantos sonhos, mas a força dos braços já não basta mais. E as dores inexprimíveis que, cravando-se na carne, roubam toda a alegria de viver.

Um dia, assim o cremos, no ocaso de nosso mundo e na manhã da eternidade, os limites cessarão e os sacramentos já não serão mais necessários, pois veremos a graça, face a face. De igual modo, também conosco. A casca rebentará e, de dentro do ovo, irromperá um pássaro de inimaginável beleza, a totalidade de nossa vida. Para trás ficarão alguns restos, já não mais necessários, pois foram apenas o lugar de maturação para o nosso último destino: a morada de Deus.
Em torno do ano 600, o Imperador Maurikios Flavios Tiberios determinou que fosse celebrada, em todo o território oriental do Império Romano, no dia 15 de agosto, a festa da Dormitio Mariae (O Sono de Maria), em recordação do dia em que a Mãe de Jesus Cristo teria deixado este mundo e ido para o céu. Pois contava-se, a essa época, que, certo dia, nossa mãe, Maria, recolheu-se em sua casa. Não se sabe bem se nas proximidades de Jerusalém, no Monte Sião, ou se em Panagia Kapulü, ao sul de Éfeso. E aí, no corpo, o cansaço dos muitos anos e, na alma, a saudade de seu filho, ela adormeceu. E naquela noite, enquanto ela dormia, vieram dos céus multidões de anjos e, tomando-a nos braços, carregaram-na para junto de seu filho.
Verdadeiramente: para aquele que crê, nunca a morte será um fim. Mas um sono, em que, desfeitos de nossos limites, finalmente voaremos ao encontro de Deus, nossa origem e nosso último destino.

(Frei Prudente Nery, grande teólogo brasileiro, faleceu em junho de 2009)

Maria: mãe nossa e companheira na fé

É esta política que queremos???

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Em memória ao meu eterno MESTRE - Frei Prudente Nery


Sempre garimpei as palavras, textos e pensares de Prudente Nery. Um dia, anotei falas de Prudente numa rara aula. Ajuntei estas e outras pérolas de sua fala. Divido aqui com vocês num raro e inédito momento de um poético pensar Prudente:

Podemos renegar a Jesus... mas a melodia de nossa voz trai que estivemos próximo dele.

Só os Anjos conseguem, na sua delicadeza, arrancar a pedra dos corações tristes.

As estrelas do céu nos dizem mais dos mortos do que uma sepultura. Procure entre as estrelas aquele que está mais próximo de você que antes.

Para todos aqueles que tem o coração em Deus, a morte é um dormir em seus braços.

Não existe morte, mas uma transposição de muros.

É sempre o Coração que primeiro percebe as verdades essenciais da vida.

A vida só é possível à luz da fé... abrindo as paredes do medo.

O mais perigoso é ficar e morar nas garras do medo. É preciso sair para fora. Olhando nos olhos do risco. A vida é cheia de riscos.

É mil vezes melhor perder a vida do que enterrá-la na sepultura do medo.

Por mais que caiamos na vida, nunca cairemos mais fundo do que nos braços de Deus.

Na frieza de nossa vida também habita Deus.

O ser humano não é perverso em si mesmo, apenas desajeitado. É alguém de coração ferido.

A graça se compõe no chão da natureza, e faz com que ela mostre todo o seu vigor.

Não se prenda ao que está à direita ou à esquerda. Olhe para frente e siga Jesus.

É impossível instaurar qualquer paixão por alguém, se não nos apaixonarmos pelo mesmo que esta pessoa ama.

Francisco sentia Jesus Cristo como sua alma gêmea.

Do rosto de Jesus retiramos a Beleza de nossa vida.

Existe só uma forma de se falar de Deus para a Humanidade: quando nas asas de nossa fala, transportamos o humano para Deus.

O vinho e o pão tem o sabor da ausência Daquele que agora é mais presente.

Ter fé é não acreditar que somos filhos de um pai e de uma mãe, mas do gracioso encontro do Finito e do Infinito, da Mãe Terra e do Pai Céu.

Cada filho que nasce é filho da virgem Mãe Terra, útero que se abre e fecha a cada vez.

“A obra de arte é uma mentira que nos faz ver a mais profunda verdade das coisas”, este pensamento é de Picasso, mas como gostaria que ele tivesse vindo das minhas entranhas.

A moral consegue muitas coisas, só não consegue abrir as portas do coração.

O diálogo só acontece quando quebramos nossos preconceitos e pisamos na terra do outro.

Quem faz a experiência do Amor sabe ter limites.

Quem está em paz sabe muito bem o que deve fazer.

Mendigos somos quando refletimos e deuses somos quando sonhamos.

É mais nobre enfrentar a morte de cabeça erguida do que ficar no matadouro de cabeça baixa.

A bondade é muito frágil diante dos bombardeios da vontade.

Tudo o que cair sobre a pedra se quebra, mas se deixar ela cair sobre si, sentirá o peso de ser esmagado.

As pessoas que mais precisam de ajuda, mais temem ser ajudadas.

É possível matar a vida do humano, mas não é possível trancar o coração de Deus.

É mais nobre morrer por uma causa do que por acaso.

Não sei que acaso levou Prudente para a Eternidade. Só sei que suas palavras ficarão para sempre em nós, do mesmo jeito que cantávamos os "Fragmentos de uma Canção quase Rude":

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A ESCOLA – Paulo Freire

"Escola é...
o lugar onde se faz amigos
não se trata só de prédios, salas, quadros,programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente,
cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz."

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Para os segundos anos do matutino - Resenha "A beleza está nos olhos de quem vê" - Camila Cury

Resenha "A beleza está nos olhos de quem vê" - Camila Cury

Definitivamente, eu tenho uma frase de peso para lhes dizer hoje: “A beleza está nos olhos de quem vê”! Sim, e ela está mesmo, nos meus olhos, no seus olhos e nos olhos das outras pessoas, mas ver nem sempre quer dizer, enxergar, não é? Muitas vezes, olhamos no espelho e vemos algo que não gostaríamos de ver, sempre surge um defeitinho (mulher nunca está satisfeita! rs), uma dobrinha, ou um culote, uma estria, enfim, mulher é assim e o natural é nunca se elogiar, mas depreciar-se sempre... Isso é errado! E sabe por quê?

No livro “A beleza está nos olhos de quem vê”, de Camila Cury, filha do autor Augusto Cury, lançado pela Editora Sextante, ela nos conta diversas histórias e fatores que nós desconhecemos e que acontecem em nossa cabeça. Se depreciar é algo totalmente ofensivo e perigoso a nós, é algo que nunca pode ser apagado de nossa mente e ela explica o fenômeno e o processo todo que se desenvolve, iniciando pelo Registro de Memória Automática, que depois se torna uma janela killer, ou seja, tudo o que nos faz temer, não gostar, depreciar, tudo mesmo, é guardado nessa janela killer e, uma vez guardado não pode ser apagado... Irá conviver conosco sempre, mas ele pode ser editado, questionado, e isso depende de nós!

No decorrer do livro, Camila, discute diversos fatores, personalidades (como Yoko Ono, Michael Jackson...) e histórias, inclusive a dela. E é fácil perceber o quanto, nós, dilaceramos com nosso corpo, mente e coração. É incrível e assustador o que a mente e simples comentários podem despertar em nós. Confesso que fiquei assustada e agora sei que não devo me prejudicar, mas sim me amar. Entrar em um eterno romance comigo, me conhecer, me adorar... Para depois, quem sabe, eu amar alguém. E isso não acontece só comigo, mas com muitas pessoas que pensam amar o relacionamento, ou alguém, antes mesmo de se amar e isso, como pude ver, é impossível.

Quando você deixa de se amar, ou nunca se amou, é impossível amar ao outro e fazer com que a relação seja benéfica e dê certo. Há muitos relacionamentos, por exemplo, que chegam ao seu fim por motivos banais e ela também cita isso, e eu vou citar apenas um exemplo: Você deve ter algo que não agrada, não tem? Barriga, seios, culote, celulite, coisas poucas, pequenas que não te fazem melhor e nem pior. E isso passa despercebido, sabe por quê? Porque a pessoa que a ama e está ao seu lado não percebe nada disso, pois você é um verdadeiro presente na vida dela, e ela sabe o quanto adora passar os momentos, e as finitas horas ao seu lado, porém, como tudo tem um porém e um mas, você acaba com essa sensação de frescor, alegria, romance e sex appeal quando insiste em plantar seus descontentamentos, não só em sua mente, mas na mente de seu parceiro. Aos poucos o que passava despercebido e ele até gostava, acaba se tornando impossível de suportar. E quem é o culpado disso? Não é o seu parceiro não, mas você, fora tu que procuraste... Pense nisso! Não faça um antimarketing de si, não perca horas e uma vida de alegria por algo que não é maior que você. Você é a maior beleza do mundo, é única... Sua forma já foi destruída, pois ninguém pode ser tão especial quanto você... Cada um tem a sua autoimagem, o seu biotipo e a sua mente.

"Sim, a partir de hoje eu me sentirei bela pelo que eu sou."

Cabe a nós, nos cuidarmos sim, e repito: Se cuidar, sim! Ferir o corpo, não!

"Sim, todas nós, mulheres – judias, muçulmanas, africanas, europeias, chinesas, americanas, brasileiras -, somos diferentes nas características, mas iguais na essência."

Por isso, de hoje em diante, caras amigas, passem mais horas diante do espelho, mas ADMIRANDO-SE, sorrindo, olhando para os seus traços marcantes, seus olhos bonitos e sonhadores, sua boca charmosa, seu sorriso... Encontre a sua essência e não perca-a, pois você é única!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Conto: A águia e a galinha

Contos

A águia e a Galinha

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas.

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista:
- Esse pássaro não é uma galinha. É uma águia - Disse o naturalista.
- De fato - retrucou o camponês. É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não - indagou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem coração de águia. Este coração um dia a fará voar às alturas.
- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos, e pulou pra junto delas. O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia até o teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra as asas e voe.
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando no chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou a dizer:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda mais uma vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto da montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas
potentes asas, grasnou e ergueu-se, soberana, sobre si mesma... e começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais alto!

Voou...voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
É interessante perceber como cada um de nós é uma águia criada como galinha. Cada pessoa tem dentro de si uma águia. Ela quer nascer, sente o chamado das alturas. Busca o sol. Foi feita para os grandes ideais e os grandes sentimentos, apesar de muitas vezes estar acostumada a ficar olhando para o chão e ficar presa a coisas pequenas como uma galinha ciscando no galinheiro. Por isso somos constantemente desafiados a libertar a águia que nos habita.

Conto : A menina e o pássaro

Conto

A menina e o Pássaro

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar.

Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...

Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.

Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.

"- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você...".

E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.

Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.

"... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as estórias.

A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia.

E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.

Mas chegava sempre uma hora de tristeza.

"- Tenho que ir", ele dizia.
"- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....".

"- Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "-- Eu também vou chorar.

Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas.

Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.

Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.

"- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz".
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com
estórias diferentes para contar.

Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.

"- Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...".

Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava.

E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola.

"- Pode ir, pássaro, volte quando quiser...".
"- Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar...

E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia.
"- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...".

E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos...

"- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje...

Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar.
AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...

E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.

- Quem sabe ele voltará amanhã...

E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.